Os Tempos mudaram aqui na terra

Numa tarde qualquer Dal começou a namorar Cícera. Ele correndo atrás dela e ela sempre esnobando.

Alí no meio, não era o perfil de garota, que se pudesse dizer, àquela garota, mas não era de se jogar fora. Afinal uma mulher não se define apenas por suas belas pernas, suas curvas, seus olhos... Enfim seus tantos apetrechos que norteiam a formosura, mas, e principalmente por sua essência. Muito embora, os imaturos corram atrás do que não conseguem enxergar com coração.

E em se tratando de homi, como dizia a tia Florinda:

- Meu filho até a vassura lá de casa, vestida cum saia é capaz de se arrumar. Pois homi é bicho besta!

Esse contexto servia pra definir o moço, seu neto, conhecido como Dal.

Passaram tantos anos e eles namoravam ou diziam que namoravam.

Vez por outra se via o menino choramingando pelos cantos e quando se perguntava o que era ele dizia nada tia:

- Foi a Cícera que não veio hoje me visitar.

A turma caia em cima e ele se recolhia entristecido.

Em dez anos de namoro, que pouco se via a moça, ele insistia, segundo ele mesmo dormia com ela, quase todos os dias.

Quando ela ia na casa da tia, ao se encontrarem os beijos pareciam ar, lá na lua. Tão raros, que o normal mesmo eram risos, quando ele não estava servindo água pra ela beber.

Mais uns dois anos e o inesperado previsto pelo tio aconteceu. Numa mesma tarde de domingo, na hora do almoço, quando o jovem Dal não se encontrava em casa, a jovem Cícera foi até a casa da tia de Dal e chamou pra conversar.

-Dona Waneza, me desculpe se vim esse horário na sua casa, é que sai agora do trabalho e sem muito tempo, resolvi vir aqui falar com a senhora.

- Sobre o que minha filha, indagou Waneza.

- É que já tenho muito tempo de namoro com o Dal, mas não estou mais a fim dele e vim lhe entrega-lo. Pedindo pra senhora falar pra ele não vir atrás de mim.

O tio Francisco quis interferir:

- Desculpe, não tenho nada com isso, mas acho que é pra ele que você deve falar.

- Acontece tio, que eu já falei. Agora só estou reforçando, inclusive já apresentei pra ele a minha namorada.

- Ah!...Dona Florinda coitada, sem querer foi meter a cara na janela e ouviu o que não entendeu e disse:

- Como é minha filha?!

-É isso mesmo tenho uma namorada. E terminei com o Dal, por isso estou entregando ele.

Dona Florinda até passou mal e todos boquiabertos só puderam dizer sim.

Quando dona Florinda veio à tona falou:

- Vixe nossa Senhora, o menino é remozo e todos sem entender direito começaram a rir.

- Etá mundo louco! Gritou o vizinho. E toda a vizinhança ficou sabendo do fora que o garoto levou.

Só não se sabe ao certo, o que assustou se foi a devolução ou a namorada.