O diagnóstico
Sara já estava sentada na mesma posição há cerca de duas horas. Não percebeu o tempo passar, absorta em pensamentos. O último ano tinha sido difícil, sua vida amorosa estava em frangalhos e a financeira à beira de um precipício. Porém, naquele momento, tudo isso tinha se tornado insignificante.
Aguardava ansiosamente para ser atendida no consultório médico. Fizera uma retrospectiva de tudo que tinha vivido até então, após retornar à realidade naquela sala de espera, pôde perceber, à sua volta, várias outras mulheres conversando sobre suas vidas.
Uma senhora conversava alegremente. Seu nome era Angélica, era angelical mesmo, não tinha como não gostar dela, estava com um lenço amarrado à cabeça para esconder a queda dos cabelos. Contava entusiasmada que estava curada. Nesse momento, Sara elogiou a beleza do lenço cheio de cores e ela lhe entregou um cartão da loja que vendia aquele tipo de lenço, caso precisasse.
Do outro lado, uma moça com menos de 30 anos contava que tinha feito o exame por causa do histórico familiar - a mãe morrera com menos de 40 anos-, aparentava ansiedade e nervosismo. Todas a tranquilizaram dizendo que tudo iria dar certo! Que era só uma precaução do médico, mas seu sorriso era trêmulo.
Ainda havia uma jovem senhora, com aparência de rica, que pouco falava com as demais, disfarçava o medo encostada no marido, que a acompanhava, teclando no celular o tempo todo. Depois de certo tempo, ela também começou a conversar e mostrou-se uma pessoa doce e otimista, descobriu-se que fazia parte de um grupo de apoio a mulheres com câncer. Explicou que ao sentir uma dor estranha, por segurança, resolveu fazer os exames.
Nesse momento, uma senhora saiu chorando do consultório, não precisou dizer o diagnóstico, pois seu semblante já o fazia. De forma espontânea, como resultado da “empatia entre iguais”, todas as mulheres ali presentes começaram a abraçá-la e desejar-lhe sorte no tratamento.
Sara pensou em como aquelas vidas estavam ligadas por um fator comum: a incerteza diante da imprevisibilidade da vida; mesmo que se faça tudo certinho, seguindo todas as regras, nada garante que se estará protegido diante do incontrolável. É uma loteria, e um belo dia pode ou não chegar sua vez. Não adiantava perguntar por que ela e não outra pessoa, pois não existe resposta.
Pensou nos filhos, o quanto eles ainda eram jovens, e um pensamento a fez sorrir: “eles ainda não sabem se defender da madrasta”, preciso ficar viva. Lembrou-se dos ensinamentos de sua avó que dizia: “espere o melhor, prepare –se para o pior e enfrente o que vier” Assim, entendia que não importava o que viesse, ela iria superar.
O pensamento da avó persistiu. Relembrou das anedotas que contava e veio à mente mais um de seus dizeres sobre as contradições do mundo: “Não sei como é de se viver nesse mundo enganoso, se come pouco é sovino, se come muito é guloso; se anda limpo é namorador, se anda sujo é seboso”. Sentiu saudades da avó! Queria que ela estivesse ali, ou, quem sabe um amigo! Não... queria mesmo era ficar sozinha.
Nesse momento, saiu do consultório a jovem com menos de 30 anos com um sorriso que iluminava todo o ambiente. Logo em seguida, saia a jovem senhora acompanhada do marido, ele a amparava de um choro compulsivo, todo seu otimismo tinha desaparecido da face.
Sara era a próxima. Entrou e fechou a porta atrás de si. Saiu sem nada expressar, se triste ou alegre não saberia dizer. A dúvida dos últimos dias finalmente acabara e mostrou-se mais dolorida que o diagnóstico – lembrou-se que a ansiedade só serve para adoecer o coração, pois não se pode mudar o amanhã! Sempre soube disso.
Naquele momento tinha paz, possuía a certeza absoluta da imprevisibilidade da vida como nunca tivera antes. Olhou mais uma vez para as outras mulheres que aguardavam atendimento, sentia-se feliz por não carregar mais aquele semblante apreensivo. Pensava que cada ser é único, viemos sozinhos ao mundo, e um dia, cada um terá que fazer suas escolhas diante do inevitável.
Abriu a bolsa e começou a procurar o cartão da loja de lenços, dependendo do preço compraria um de cada cor. Gostava de chapéus, mas os lenços eram mais práticos.
Imagem do Google
Aguardava ansiosamente para ser atendida no consultório médico. Fizera uma retrospectiva de tudo que tinha vivido até então, após retornar à realidade naquela sala de espera, pôde perceber, à sua volta, várias outras mulheres conversando sobre suas vidas.
Uma senhora conversava alegremente. Seu nome era Angélica, era angelical mesmo, não tinha como não gostar dela, estava com um lenço amarrado à cabeça para esconder a queda dos cabelos. Contava entusiasmada que estava curada. Nesse momento, Sara elogiou a beleza do lenço cheio de cores e ela lhe entregou um cartão da loja que vendia aquele tipo de lenço, caso precisasse.
Do outro lado, uma moça com menos de 30 anos contava que tinha feito o exame por causa do histórico familiar - a mãe morrera com menos de 40 anos-, aparentava ansiedade e nervosismo. Todas a tranquilizaram dizendo que tudo iria dar certo! Que era só uma precaução do médico, mas seu sorriso era trêmulo.
Ainda havia uma jovem senhora, com aparência de rica, que pouco falava com as demais, disfarçava o medo encostada no marido, que a acompanhava, teclando no celular o tempo todo. Depois de certo tempo, ela também começou a conversar e mostrou-se uma pessoa doce e otimista, descobriu-se que fazia parte de um grupo de apoio a mulheres com câncer. Explicou que ao sentir uma dor estranha, por segurança, resolveu fazer os exames.
Nesse momento, uma senhora saiu chorando do consultório, não precisou dizer o diagnóstico, pois seu semblante já o fazia. De forma espontânea, como resultado da “empatia entre iguais”, todas as mulheres ali presentes começaram a abraçá-la e desejar-lhe sorte no tratamento.
Sara pensou em como aquelas vidas estavam ligadas por um fator comum: a incerteza diante da imprevisibilidade da vida; mesmo que se faça tudo certinho, seguindo todas as regras, nada garante que se estará protegido diante do incontrolável. É uma loteria, e um belo dia pode ou não chegar sua vez. Não adiantava perguntar por que ela e não outra pessoa, pois não existe resposta.
Pensou nos filhos, o quanto eles ainda eram jovens, e um pensamento a fez sorrir: “eles ainda não sabem se defender da madrasta”, preciso ficar viva. Lembrou-se dos ensinamentos de sua avó que dizia: “espere o melhor, prepare –se para o pior e enfrente o que vier” Assim, entendia que não importava o que viesse, ela iria superar.
O pensamento da avó persistiu. Relembrou das anedotas que contava e veio à mente mais um de seus dizeres sobre as contradições do mundo: “Não sei como é de se viver nesse mundo enganoso, se come pouco é sovino, se come muito é guloso; se anda limpo é namorador, se anda sujo é seboso”. Sentiu saudades da avó! Queria que ela estivesse ali, ou, quem sabe um amigo! Não... queria mesmo era ficar sozinha.
Nesse momento, saiu do consultório a jovem com menos de 30 anos com um sorriso que iluminava todo o ambiente. Logo em seguida, saia a jovem senhora acompanhada do marido, ele a amparava de um choro compulsivo, todo seu otimismo tinha desaparecido da face.
Sara era a próxima. Entrou e fechou a porta atrás de si. Saiu sem nada expressar, se triste ou alegre não saberia dizer. A dúvida dos últimos dias finalmente acabara e mostrou-se mais dolorida que o diagnóstico – lembrou-se que a ansiedade só serve para adoecer o coração, pois não se pode mudar o amanhã! Sempre soube disso.
Naquele momento tinha paz, possuía a certeza absoluta da imprevisibilidade da vida como nunca tivera antes. Olhou mais uma vez para as outras mulheres que aguardavam atendimento, sentia-se feliz por não carregar mais aquele semblante apreensivo. Pensava que cada ser é único, viemos sozinhos ao mundo, e um dia, cada um terá que fazer suas escolhas diante do inevitável.
Abriu a bolsa e começou a procurar o cartão da loja de lenços, dependendo do preço compraria um de cada cor. Gostava de chapéus, mas os lenços eram mais práticos.
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