A PEDRA NO MEIO DO CAMINHO FOI... - PARTE III
"Sem querer querendo" /saudades do Chaves!/, tropecei na rua, segurei num poste e lembrei........
Lá vem pedra.
CDA 'quase' apedrejado porque, como super intelectual, jamais poderia (pôde, sim!!!) brincar com amigos e leitores.. Usou espertamente de redundâcia semântica, repetição, recurso poético. Se havia inimigos, até eles decoraram as dez linhas do mini poema. Pedra? Que pedra? Ai se fosse um meteorito gigante...
intertextualidade? Na HQ de Maurício de Sousa, o cãozinho Bidu tropeça numa pedra nada metafórica, viu estrelas nada biloquianas e nada aliviou a dor nas patinhas... Deve estar gemendo e pedindo colo até hoje.
Mas muito ao contrário, desta vez em nada doces cenas mineiras, nem melado ou cachaça nem pão de queijo, José Miguel Wisnik não viu pedra alguma (entre outros qualificativos, ensaísta e também professor de literatura brasileira) - visitou Itabira para tentar melhor entender in loco a mineração na poesia de Drummond - não achou nada! Pico do Cauè, em Itabira, cidadezinha do Quadrilátero Ferrífero mineiro, é hoje somente uma grande cratera, consequência de mineração sem limites. Desde o começo do século XX, 1911, ingleses e americanos comprando terras de pequenos ruralistas a preços ínfimos para explorar as jazidas de ferro. Nem políticos esquerdistas nem engenheiros atiraram pedras que afugentassem de vez os insistentes depedradores... Toda a ambiência mudou - o sino da matriz deve ter virado dinamite para extração de minério (nem Mamãe-do-Céu escapou), a fazenda de infância virou depósito de rejeitos da mineradora, preservados apenas a casa-grande e o casarão no centro da cidade. No poema "Confidência do Itabirano", vaga visão ufanista, escrito em emergência: orgulho em "Principalmente nasci em Itabira", terra natal tranquila e monótona cidadezinha interiorana - dela herdou a tristeza, o orgulho, a vontade de amar, o hábito de sofrer - ah, depois foi ser funcionário público...
Pura nostalgia do passado - "...um retrato na parede / Mas como dói". Dor de Itabira só existir nas lembranças do poeta e ser agora apenas uma folha de papel.
Pedra agora somente nas antologias.
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FONTE:
"No meio do caminho não tinha pedra nenhuma" - Rio, revista Época, 2018.
F I M