TEMPOS MODERNOS

A morte de um filho é a pior coisa que pode acontecer na vida de alguém. Mesmo se for uma morte heroica, como a do meu Joaquim Junior... ou Juquinha, como era conhecido.

Eu entrava no portão do meu prédio e vi um furdunço de gente cercando a porta do elevador. Uma dupla de técnicos de manutenção gritava em pânico lá de dentro das máquinas avisando que alguém estava preso nas ferragens. Um terceiro técnico nada fazia, apenas de cócoras levando a mão ao peito tentando conter o pânico e a respiração ofegante.

Deixei as compras caírem no chão num súbito de inexplicável sentimento de perda. Chamem de sexto sentido ou de toque divino, mas eu logo soube que meu Juquinha estava lá... e que estava morto. O síndico do prédio apareceu em minha frente seguido de mais umas três pessoas e me cercaram como se estivessem prontos para conter qualquer escândalo de um pai desesperado.

- A culpa é minha... – eu disse, num tom robótico.

- Não seu Joaquim... A culpa não é de ninguém, meu bom homem. – Disse-me a mulher gorda do oitavo andar.

- Eu, eu nem sei quem é você... – Balbuciei... tentando ser rude, mas ninguém parecia se importar com isso.

Fui andando devagar em direção ao elevador ainda meio petrificado, disse... – Me perdoem... eu só quero passar.

Ao ver meu filho enganchado nas ferragens, disse novamente... que a culpa era toda minha... e chorei baixinho, mas com rios de lágrimas abundantes. Lembrei-me do dia anterior...

- Pai, ninguém vai dizer nada neste filme?

- não, querido, é um filme mudo. Antigamente eles eram assim.

Na metade do filme ele disse, num tom alegre...

- Esse Chaplin é muito engraçado! Olha! Ele ficou preso nas maquinas! – E rimos à beça. Juntos, abraçados, juntinhos... era nosso último momento... e eu não sabia.

- É um protesto filho... Através da arte ele mostrou que a tecnologia opressora estava nos esmagando.

- É... Mas pai... isso não mudou. – Ele disse. E fez uma cara triste e pensativa... E foi a última expressão de que me lembro, com orgulho e com pesar.

Agora ele estava ali... preso nas ferragens do elevador antigo, cheirando a sangue e ferrugem. Ergui minha mão e fechei os seus olhinhos deixando-o descansar em paz. Dei um sorriso largo e ninguém entendeu do que eu ria... pois, ninguém entendeu o seu protesto.

- Ele era mesmo. Um cara muito engraçado, meu filho.