Que país, Que povo!
Numa hora qualquer da cidade, João, em sua casa se sentiu mal e sua família o acudiu levando-o a Unidade de Saúde do bairro e quando lá chegou não havia médico. Pelo corredor o rapaz ficou esperando, ao lado de várias outras pessoas, até que localizassem o tal médico em sua residência. Lá pela cinco e meia da manhã quando o médico chegou observou o rapaz foi logo passando dipirona, qual ele já tinha feito uso, e como no entender do médico já estava medicado o mandou para casa.
Em casa o rapaz só fez piorar, fazendo com que o pai e a família fossem ao Ministério Público para exigir a internação do rapaz, que sofria com muitas dores e pouco se resolveu, pois a unidade de saúde fez pouco caso e tudo ficou como se nada tivesse acontecido.
No desespero o pai do rapaz com a família e agora os seus colegas resolveram fechar a BR para chamar a atenção de todos e terem o atendimento ao rapaz. Colchões e pneus queimavam pessoas com cartazes exaltavam palavras de ordem e os carros e caminhões querendo passar apitavam até que a polícia veio reinstalar a ordem no local, após a televisão se fazer presente e tomar conhecimento da reivindicação, que foi ao ar, fazendo indiretamente a unidade de saúde atender o rapaz de novo.
O rapaz foi levado para um setor que nomearam de unidade intensiva, mas quadro piorava, pois não havia medicamento e família novamente se movimentou a frente da unidade querendo que o rapaz fosse para o Pronto Socorro. Na confusão a policia foi novamente chamada para restabelecer outra ordem e no meio de tantos desaforos, passava na televisão do salão da unidade, no jornal do noite, que numa escola da rede pública os alunos assistiam aula com a iluminação dos aparelhos celulares, pois não havia energia elétrica por falta de manutenção. E o povo assistindo aquele flagelo começou a gritar:
- Onde está a Democracia?!... Cadê o Estado que nos cobra imposto e se omite dos serviços?! Policia é só para nos combater! Vão procurar o que defender! Precisamos de segurança não de opressão!...
Ao meio desse tornado de confusão a unidade policial pediu reforços, enquanto o rapaz estava sendo preparado para ser levado ao pronto socorro. Mas o novo médico de plantão verificou que o quadro do rapaz avançou e que por isso não iria conseguir ser transportado. Então foi obrigado a negar a transferência, na tentativa de restabelece-lo para leva-lo um outro dia.
Naquela noite a policia bateu, deteve e teve os seus carros apedrejados. Aquele protesto foi lavado em sangue, em gritos e muito empurra, empurra. Palavrões e muita discussão até que a imprensa veio novamente figurar e restabelecer a calma.
Quando o novo dia vinha raiando pelas frestas das folhas e galhos da mangueira, após o verso de vida de vários Sabiás, Bem-te-vis e um aroma clássico das flores, veia a fria informação de que o rapaz enfim, descansara. Ele, para todos os que permaneciam ali, morrera.
A comoção foi inevitável, muitos colegas choravam, os pais perguntavam por que, os vizinhos tentavam consolar, tendo que engolir a indignação, enquanto que a policia e os enfermeiros tiveram que ouvir:
- Agora sim, são eles que vocês devem prender! De que lado vocês estão! Cadê a ordem. Cadê o Estado?!... Com certeza só vai aparecer pra dizer mais uma vez, que providências serão tomadas e que isso não ira mais acontecer!... Diziam numa boca só, várias pessoas que ali dividiam a dor, naquele momento, que a cada dia expõe a sangue frio a desigualdade, a discriminação aliada a tanta indiferença.
Num quadro só ficou a televisão noticiando o falecimento, a policia reservada sem saber o que fazer, o Secretário de Saúde do seu gabinete pedindo desculpas a família e alguns enfermeiros caminhando pra sua rotina, enquanto a família chorava indignada, sem uma resposta eficaz se preocupando em receber o corpo para fazer, pelo menos, um enterro digno.