AMOR NOS TEMPOS DO FIM – PARTE 3
1830
Margareth MacDonald que nascera em 1815, morrera jovem, em 1840, com apenas 25 anos de idade. Era uma noite fria, como tantas outras na Escócia, quando foi ao culto numa casa, que servia como Igreja, pastoreada por Edward Irving. O culto no lar naquela época, era a Igreja adenominacional, ou seja: a Igreja sem denominação. Durante séculos existiu uma Igreja assim. Não havia uma placa de Igreja, onde se reuniam, eram simplesmente os crentes, os cristãos, se reunindo para orar a Deus. Jon Darby, o advogado que havia sido expulso da Igreja Presbiteriana, por suas ideias que não condiziam completamente com a Igreja, acusado de desobediência a Deus, heresia e de não ser doutrinário, pelo menos não do jeito que eles eram, estaria naquele culto, daquela noite. O mundo iria mudar depois desse culto.
À luz de velas e de candeeiros, os irmãos arrumaram as cadeiras de madeira bruta e a mesa, onde alguém leria a Bíblia e falaria algumas palavras inspiradas. Os cânticos começaram, as vozes ficavam mais altas e mais firmes. Quase todos cantavam. Não era muito comum Deus usar alguém em profecia nesses dias. As Igrejas da Reforma eram rígidas à liturgia, quase não deixando espaço para o Espírito Santo agir. Margareth MacDonald entrou em transe, no meio da cantoria. Falou em línguas, o que era incomum à época, assim como outras pessoas daquela Igreja no lar. Não era estranho ir a um culto sem uma placa de Igreja. Os religiosos sempre queriam rotular: Esta casa de oração pertence a essa Igreja ou a essa outra. Não, os cultos adenominacionais eram comuns desde a Igreja Primitiva. Eles simplesmente davam vazão ao Espírito Santo operar e faziam o culto conforme iam sentindo que deveriam fazer. Esses cultos no lar eram muito criticados pelas Igrejas da época, que exigiam uma rigidez doutrinária e de forma de culto.
Era comum as profecias e as palavras reveladas nesses cultos, apesar de que um culto assim - feito na maioria de leigos, gente sem instrução escolar clara, que era muita cara à época e inacessível para a maioria das pessoas - eram muito criticados. Para muitos era um absurdo um leigo, alguém sem a devida Teologia, sem passar pela banca examinadora, pregar a Palavra e ensinar a outros. Muitos pastores presbíterianos, batistas e metodistas não cumprimentavam os pastores leigos, que para eles eram um enigma. Como era possível os cultos conseguirem agregar a cada dia mais pessoas para as casas? Darby não achou lugar numa Igreja tradicional, rígida e religiosa da época e foi para o outro extremo, o culto nos lares. Haviam abusos, ele sabia. Todos sabiam. Haviam palavras fora de ordem de texto e de contexto. A forma de ensinar algumas doutrinas era sem pé nem cabeça. Faltava a esses carismáticos a instrução ordenada, mas sobrava espontaneidade e sinceridade. A Igreja da época era tão rígida, que só pregavam os poucos iluminados, que eram quase sempre parentes ou amigos do pastor principal. Fora do círculo, era difícil alguém poder compartilhar aquilo que Deus lhe inspirava a fazer.
Mas o Evangelho nunca foi preso e muitas pessoas saíram das Igrejas tradicionais e foram cultuar no lar, onde a Igreja não pertencia a essa ou àquela denominação, que ao invés de ajudar, quase sempre impunha religiosidade, regras, horas e costumes. As pessoas estavam cansadas disso e queriam um Evangelho mais fácil, simples e popular. No lar todos eram iguais, todos eram crentes e todos podiam falar e cantar livremente.
Naquela noite fria, onde Margareth MacDonald, uma linda jovenzinha fora com seu vestido mais bonito cultuar a Deus, num culto com menos de trinta pessoas, ela compartilhou a visão que teve, que foi correta, da parte de Deus, mas que caiu em ouvidos que interpretaram sem a devida clareza. Margareth compartilhou que viu, o Arrebatamento futuro da Igreja. Cristo vinha no Céu com seus anjos e a Igreja subia ao seu encontro. Mas Margareth notou, ou foi impactada pelo Espírito, a perceber, que uma parte importante da Igreja, mais da metade, ficara para trás e não fora arrebatada. O Evangelho é simples, quando somos simples. A maioria das pessoas ouviram e entenderam que a vinda de Cristo era próxima. Talvez não passasse de cinco ou dez anos. A sensação era que Cristo poderia voltar a qualquer minuto.
Analisando isentamente a revelação da irmãzinha Margareth, o entendimento era que uma parte pequena, menor da Igreja, no mundo todo iria subir e a outra parte, maior, não estava na posição de subir. O pensamento mais claro, seria que estavam vivendo em pecado.
Infelizmente, John Darby saiu daquele culto naquela noite, impactado por essa revelação. Passara parte da noite pensando sobre o assunto e durante a semana o assunto o acompanhara. Darby, um pensador, ou assim ele imaginava ser, amoldou a revelação, que era simples e clara, às doutrinas da época e fez um releitura da revelação. De uma revelação, Darby criava uma doutrina. John Darby concluira, devido a ensinos errôneos sobre predestinação e eleição, que uma vez eleito sempre eleito e uma vez chamado, não importa o que se faça sempre será chamado, não enxergando na doutrina, que mesmo que a pessoa sendo chamada ao Evangelho, se começar a pecar ou a duvidar pode sim perder a salvação.
Darby, assim como muitos outros à sua época, não admitiam que um crente poderia perder a salvação. O que poderia serem essas duvidas dirimidas facilmente, ao se ler a sua Bíblia isento de influências contemporâneas de alguma, ou qualquer uma Igreja. A Bíblia é o manual da Igreja, de todas as Igrejas. Podemos dizer que a partir da Bíblia, as Igrejas surgiram. Só que não se sabe porque, exatamente, as pessoas querem instituir Igrejas que fogem dos padrões da Bíblia. Doutrinas não bíblicas apareceram na história e não param de surgir. Darby e seus conterraneos, se lessem a Bíblia em oração, com o coração aberto, numa leitura isenta de influências da época, ou da Igreja do momento, perceberiam facilmente que uma vez eleito não se é eleito para sempre se começar a pecar. O pecado interrompe qualquer tipo de benção ou de promessa. Um horror, para algumas doutrinas como a predestinação ou eleição, é que o Inferno, quando for inaugurado, com a vinda de Cristo, pouco antes do fim da Tribulação, terá no rol de seus membros milhões de crentes desviados. A eleição e predestinação não admitem que o crente possa perder a salvação. O que é facilmente observável na Bíblia.
Parece-nos que existe uma cegueira espiritual vigente, onde as pessoas acreditam mais no que vêem, ou naquele que lhes fala, o pregador, do que na Bíblia, que deveria mesmo ser a regra de fé. A Bíblia fala alguma coisa, mas as pessoas acabam acreditando em pessoas e coisas que não estão na Bíblia. Isso sempre foi assim: essa cegueira espiritual, ou falta de fé, ou falta de querer se amoldar à Bíblia e viver por ela.
Cheio de verdades não bíblicas, John Darby concluiu que o Arrebatamento seria em duas partes, na primeira uma leva de crentes subiria e posteriormente a outra parte. Mas como isso não se ajustava à Bíblia ele começou a fazer várias adaptações ao que concluiu erradamente. Darby não admitia que a Igreja pudesse passar pela Tribulação. Era inadmissível em seu pensamento a Igreja sofrer. O que beira o rídiculo, pois Crissto era o servo sofredor e a Igreja sempre sofreu. A Igreja iniciou sendo perseguida por Roma. Milhões de crentes foram morto; homens, mulheres e crianças. Durante três séculos, desde o nascimento da Igreja, o Diabo quis matar a Igreja. Foram aproximadamente trezentos anos de perseguição e morte. Dizer que a Igreja não poderia sofrer é uma ideia que beira o rídiculo, de tão estapafúrdia. Darby criava uma doutrina nova, o que é terminantemente proibido pela própria Bíblia, especialmente Apocalipse, que é o livro que trata das coisas do fim. No seu pensamento a Igreja não poderia passar pela Tribulação, então o que dizer dos que ficaram, na visão da jovem Margareth? John Darby concluiu que os que não subiram não tinham mais oportunidade agora de salvação, o que foge até mesmo do sentido que ele quer dar ao entendimento de eleição e predestinação. Uma vez salvo, os que ficaram para trás não seriam mais salvos? É Isso que ele dizia? A sua nova doutrina ia ficando cada vez mais confusa e quanto mais ele pensava a coisa ia piorando.
Darby tinha um problema sério com Israel, pois era nítido em Apocalipse que Israel ia passar pela Tribulação. Mas ele concluiu - o que fere de frente os escritos de Paulo para os gregos de Éfeso - que Israel tinha uma salvação diferente da Igreja. Darby passou por cima de Cristo e de Paulo, para dizer que Israel teria uma salvação diferenciada. Sendo assim não era um povo eleito para salvação, mas no Céu haveriam duas linhagens de salvação e não uma, o que é estranhíssimo à Bíblia.
Darby ia concluindo absurdos, da revelação da senhorita Margareth, que fora acusada com o tempo de bruxaria e feitiçaria, por causa dele, Darby. Ela trouxe a profecia certa, ele é quem entendeu tudo errado.
Darby não admitia a Igreja passar por sofrimentos tão grandes como seria a Tribulação. Na sua nova doutrina desautorizada pela Bíblia, ele concluiu agora que o Espírito Santo seria tirado da Terra, no tempo da Tribulação, pois é Ele quem convence o homem do pecado e se o Espírito Santo não estivesse na Terra, então Ele não convenceria o homem do pecado e isso não geraria uma Igreja em Apocalipse. E ai estava formada a salada que ele brilhantemente concluiu de uma revelação. Darby criou uma nova doutrina desautorizada veementemente pela Bíblia, gerada numa revelação. Para piorar e amoldar o que concluia, se afundando cada vez mais, concluiu que as sete cartas de Apocalipse eram o que ele chamou de Dispensação, ou seja, a primeira carta fora escrita para o primeiro período da história, a segunda para o segundo período e assim até a última carta. Essa idéia de Dispensações ele foi enxergando em outros pontos e acabou criando uma ampla doutrina, o que a Bíblia não ensina. A Bíblia fala de uma Dispensação, só uma, com o sentido de tempo.
O interessante nessa fala de Darby, era que tudo o que disse tinha alguns versículos que poderiam serem lidos como comprovando alguma coisa de sua nova doutrina, mas não o todo. Sabemos que o Diabo é um mestre em distorcer as verdades bíblicas e a Palavra de Deus, fazendo-nos duvidar dela e incluindo sutilezas que não estão ditas ali. Desde Eva, o Diabo vem usando um pouco de verdade e distorcendo ela, para colocar duvidas em Deus.
John Darby concluiu absurdos retirados de uma revelação de uma menina de quinze anos de idade, num culto no lar. Distorcendo e forçando a Bíblia a dizer o que não dizia, publicou num jornal as suas conclusões absurdas. Essas ideias foram parar nos ouvidos de um homem chamado Cyrus Ingerson Scofield, que gostando tanto dessa nova doutrina, publicou uma Bíblia com notas de rodapé com as ideias de Darby, em 1909, é a Bíblia de referência Scofield.
O Arrebatamento Secreto, a Segunda Vinda em duas partes, a primeira para a Igreja, o povo escolhido: Igreja, e a vinda visivel, no meio para o fim de Apocalipse, para Israel, o outro povo escolhido, a saída do Espírito Santo do mundo, a Igreja desviada que não ia para o Inferno, a retirada do sofrimento do povo de Deus e outras conclusões absurdas vindas disso ai, encontraram milhares e milhões de corações que preferiram acreditar na mentira, do que examinar as suas Bíblias. Era um confronto com o que a Bíblia verdadeiramente dizia e o que a Bíblia Scofield dizia. Estava inventada assim a doutrina de um Arrebatamento Secreto, sendo que a Bíblia diz que a vinda de Cristo será o evento mais barulhento da Terra. Todo olho o verá, na sua vinda, até mesmo os que o transpassaram e chorarão com pesadas lágrimas.
Margareth MacDonald saiu alegre daquele culto, onde Deus a usara para falar que uma parte da Igreja não subiria, por não estar na posição, mas que os que eram fiéis esses estavam garantidos. Ela se sentia livre e abençoada por Deus e era mesmo. Se concluiram errado o que ela disse, isso não retira dela, que naquela noite fria, ela fora visitada pelo Senhor.
Porque milhões preferem a mentira do que examinar as suas Bíblias e a origem dessa nova doutrina, é fácil de entender: as pessoas preferem a mentira que lhes diz que serão abençoados do que a verdade da Cruz e do sofrimento. Com o tempo a Igreja perdeu a origem de onde foi gerada a doutrina de um Arrebatamento Secreto, muitos não têem ideia que veio de uma revelação e de um homem que fora expulso da Igreja Presbiteriana por ter ideias contrárias à Bíblia. Milhares e milhões se iludem, beirando a idolatria, que haverá eminentemente um Arrebatamento Secreto, onde ele será levado ao Céu, para andar em ruas de ouro e cristal. Não comparam as suas Bíblias, com os ensinos de Darby e Scofield. O que a Bíblia diz a esse respeito, para esses não tem muita importância. Se dizendo cristãos negam a própria Bíblia, que não examinam. Se alimentam de uma falsa esperança. Se alimentam de um erro grave. Um dia pode ser que Deus diga assim: Você tinha a sua Bíblia e livros escritos por homens, você acreditou mais em quem?
Naquela noite Darby fora para casa, após o culto, com a cabeça cheia de caraminholas, pronto a escrever uma nova doutrina bíblica. Naquela noite John Darby colocou lenha no fogo estranho e o deixou queimar, e esse fogo estranho, queima até hoje.
A grande pergunta que podemos fazer a respeito da espera ansiosa e imediata de um Arrebatamento Secreto para a Igreja é: Isso te faz um crente melhor? Se a Igreja será arrebatada imediatamente, porque muitos que assim o dizem vivem em pecado? Alguns defendem com unhas e dentes essas doutrinas, até mesmo distorcendo versículos e ensinos claros, negando a Cristo, Paulo, Pedro, Marcos, Lucas, João, Mateus e outros escritores bíblicos. Esses não examinam suas Bíblias, isentos de falas não autorizadas. Não se cria uma doutrina em cima de uma visão. Não se pode acrescentar nada na Bíblia, após o cânon ter sido finalizado no primeiro século. O Espírito Santo não guardou uma revelação final, onde negava muita coisa que a Bíblia diz, como a afirmação que grego, romano, juudeu, ou qualquer um, agora, em Cristo, é chamado de Igreja. Deus não tem dois povos, mas um novo povo. É fogo estranho dizer que o Espírito Santo será retirado da Tribulação, a Bíblia não falaz isso, assim como dizer que não haverá uma Igreja ali, ou que o Evangelho não será pregado na Tribulação. As Dispensações criadas por Darby dão margem a entendimentos errados e sem fundamento.
Continua...
Paulo Sergio Larios