Uma noite sem Marie
- Não posso falar agora - Marie falou do outro lado da linha.
- Por que? - Perguntei, contrariado.
- Estou com alguém.
- Ah sim. tudo bem.
- Tudo bem mesmo?
- Tanto faz.
- Ok. - Ela respondeu antes de desligar.
Larguei o celular sobre a cama e me deitei de cara para o ventilador.
O mormaço da noite tornava o meu quarto quase inabitável e eu desejei ter um ar condicionado.
Peguei um livro, folheei, lí dois parágrafos e o larguei de lado, inquieto.
O telefone tocou. Era Marie.
Atendi e esperei que ela falasse.
- Olha. Não quero que você fique chateado.
- Eu já te falei que está tudo bem.
- Eu sei. Mas eu te conheço.
- Conhece.
- Veja só. você tem suas mulheres, mas nunca falei nada.
- Ninguém pôs isso em questão.
- Então por que está chateado?
- Você quer que eu fique feliz e solte fogos por saber que tem outro cara aí?
- Não... Não é isso.
- Veja só Marie. Podemos conversar em outro momento.
- Tá certo.
- Eu estou bem. Não se preocupe.
Dessa vez eu desliguei o telefone após o fim da ligação.
Puxei o notebook para o meu colo e escrevi alguns paragrafos desconexos sobre tudo e nada ao mesmo tempo.
Larguei o editor de texto aberto e fui até a varanda da sala. Me deitei na rede e esperei o tempo passar acompanhando o movimento da lua no céu.
Em algum momento eu adormeci e só acordei quando o sol já me feria os olhos.
E de alguma forma eu estava de volta,
na porta do seu apartamento...
o número 505.
Ela havia deixado a porta aberta. Eu entro e sigo pela sala.
Vejo o rastro de bitucas de cigarro espalhadas por todos os lugares,
sigo até o quarto e ela está deitada de lado, com os braços entre as coxas,
exatamente como na música,
que sempre me fazia lembrar de nós dois.
Ela sorri e pede para que eu abra os olhos
e só aí eu percebo que tinha sonhado.
Havia amanhecido e ja estava perto das 9h.
Voltei pro quarto e liguei meu aparelho de celular, que imediatamente mostrou uma mensagem de Marie, escrita na noite anterior.
"Desculpa. Amanhã conversamos. M."
O sol continuava a se arrastar no céu, e logo Marie passaria pela porta
e esqueceríamos tudo antes do jantar.
A noite seguinte sempre resolvia as nossas brigas.
Então pensei que estaríamos bem, sempre que houvesse
uma noite seguinte para nós dois