Em Briga de marido e mulher…Louro não mete a colher.
Na ilha de Cotijuba vivia dona Nazaré com o seu Benedito, tinham vários filhos, o Saci, que era um cachorro esperto, o Jabuti Zezé, o papagaio Siri, uma casa simples e um pedaço de chão para plantar e dali tirarem os seus alimentos.
Assim, logo que o dia amanhecia eles seguiam para a roça, onde trabalhavam até o final da manhã. Seu Benedito, após o almoço, armava a sua rede e tirava aquela soneca. Dona Nazaré, antes de fazer companhia ao marido, encaminhava os seus três filhos à escola. Saci acompanhava os meninos e depois se dispersava correndo no campo afora, Zezé, as vezes enfiava a face num canto, como se estivesse sempre emburrado e de lá só saia no outro dia quando a dona lhe chamava carinhosamente e dava algumas frutas, enquanto o papagaio, esse não dormia e ficava andando de árvore em árvore fazendo encrenca com macacos, Tucanos e Japins. Passava o dia reclamando e falando, falando, falando.
Passando os anos, como de comum, surgiu a uns dois quilômetros da casa do senhor Benedito e dona Nazaré, dona Jurema, uma viúva, cujos filhos moravam em Belém e tinha como companhia seu avô, de nome José e Mariinha sua sobrinha, além do cavalo Tem, Tem e do bode velho Romualdo. Trabalhava fazendo plantação de hortaliças, bem como no seu artesanato, de redes e tricôs.
O poço de água, que ficava a um quilometro da casa do seu Benedito e da dona Nazaré fazia a divisão, quase que exata da distância do outro um quilometro para a casa da dona Jurema. E lá muitas vezes elas, quando não o seu Benedito se encontravam e foram fazendo amizade.
Com um germe na alma, adentrando pelos olhos da cobiça, Benedito se interessou por dona Jurema, que também deu confiança. E assim, a admiração que parecia inocente, se tornou paciente de uma enfermidade, uma paixão viciosa. Seu Benedito, mesmo tendo a sua mulher, aproveitava a hora da tarde, em que todos dormiam e saia de mansinho para se encontrar com dona Jurema num barraco feito às pressas no seio da mata para os amantes. Então a beira mar, na praia do “Vai quem Quer” eles passavas as tardes e na sequência dos encontros as vezes entravam pela noite.
Quando Benedito chegava em casa, justificava dizendo sair pra caçar, mas nem sempre trazia o resultado da caça. Tão pouco levava o Sací ou os seus apetrechos para uma caça, ou mesmo para a pesca, que era a sua segunda desculpa. Mas a mulher, Nazaré nunca desconfiara, pois não havia como imaginar, ali, naquele paraíso, qualquer maldade.
Não se sabe como ou quem abriu os olhos, ou melhor dizendo a boca do Siri, que ele sem ter muito o que fazer, além de brigar nas árvores e tagarelar. Sim tagarelar… Começou a observar o seu dono sair de mansinho e lá do alto da goiabeira sem qualquer escrúpulo gritava sem parar:
- Nazaré, Nazaré, te cuida, lá vai ele fugindo para se encontrar com uma mulher.
E assim, muitos foram os dias, até as noites, que dona Nazaré passou a ficar desconfiada.
Pois Bené sempre com desculpas esfarrapadas, um dia gaguejou e a mulher, como todas as mulheres, sente quando está sendo traída. E o que parecia apenas um desconforto, passou a ser um problema, que o seu Benedito já nem conseguia administrar.
Então, como dizia ele em seus pensamentos:
Esse papagaio é uma tentação.
Na madrugada, de um dos dias mais escuros e silenciosos, em que todos dormiam afavelmente, sob a brisa, que reinava; Benedito se aproximou sorrateiramente da goiabeira e num vacilo do Siri, ele o pegou e torceu o pescoço do bicho, que amanheceu, pela primeira vez, fora da árvore de sua morada, estático no chão frio.
Dona Nazaré, sem acreditar, junto com os meninos ficou em prantos. Ninguém sabia a causa e seu Benedito foi logo encucando:
- Deve de ser algum mal, que está se alastrando.
Então dona Nazaré, preocupada foi até ao povoado e chamou dona Maria, que era parteira e benzedeira, para benzer suas crias e espantar o mal do lugar.
Foi quando a velha sábia fez as suas mandingas e, quando já ia embora, sob os agradecimentos de dona Nazaré e os meninos resmungou, o que muito já se falava no vilarejo e todos ficaram sem entender:
- Briga de marido e mulher…Papagaio não deve meter a colher.