Quiromancia (versão pocket)
José tinha 16 anos e morava num conjunto habitacional de casas populares. Escola e partidas de futebol num campo improvisado num terreno baldio dividiam o seu dia, apesar de, em casa já começar a ouvir que tinha que arranjar um emprego para ajudar no orçamento familiar, a exemplo de outros rapazes que nesta idade já conseguiam emprego em supermercados.
Certo dia quando voltava da escola com amigos, viu o campinho ser tomado por um grupo de pessoas que iam montando barracas. Não gostou de ver seu mundo sendo invadido sem a devida autorização dos “donos do pedaço” – a galera que todo dia se esbaldava com o esporte bretão. Percebeu um burburinho entre os vizinhos, com um misto de desconfiança e curiosidade. Ficou sabendo que eram ciganos e não se tinha idéia de quanto tempo iam ficar. Histórias de crianças sequestradas e de magias faziam parte do imaginário popular quando se ouvia a palavra “Cigano”.
Naquele dia à tarde depois de ver as barracas montadas viu duas mulheres indo de casa em casa para conversar. Quando a dupla chegou ao portão de sua casa percebeu que era formada por uma mulher que aparentava ter a idade da sua mãe e uma moça que parecia ter uns 18 anos. As vestimentas facilmente as identificariam como ciganas: alguns colares, anéis, muitas pulseiras, uma pedra colada no meio da testa, um lenço estampado na cabeça e vestidos de um tecido leve e com cores fortes. Decotes magnéticos de pupilas, que exigiam um esforço para disfarçar, completavam o visual.
A mulher mais velha falou:
-Você pode chamar sua madre fazendo um favor? – o sotaque tinha um quê de espanhol. José não gostou do pedido, que denotava o juízo da mulher quanto à sua falta de relevância. Instintivamente deu uma insuflada no peitou e perguntou?
-Não é nada que eu possa ajudar? – a moça mais nova parece ter percebido o sentimento do José e foi logo justificando:
-Na verdade conversamos com as mulheres, pois propomos uma visita em nossas tendas para ver o futuro através das linhas das mãos. As mulheres são mais curiosas sobre estes assuntos.
-Você quer dizer, mais sugestionáveis...
-Não entendi? O que quis dizer com “sugestionáveis”? – interveio na conversa a mulher mais velha - Você teria a coragem de estender sua mão para que a Jade - referindo-se a moça ao seu lado - pudesse ler algo? –o tom era desafiador. Entre o medo do desafio e a vergonha deste medo disse, enquanto estendia com desdém a mão esquerda:
-Pode tentar com esta. Como sou canhoto talvez ela tenha coisas mais interessantes para leitura – Jade pegou sua mão com delicadeza e virou a palma para cima. A mão do José suava. Ela observou silenciosa por eternos segundos e olhando bem nos olhos de José disse:
-Reparo aqui na sua linha da vida que vai ter uma grande inundação – um sorriso encantador acompanhou a brincadeira de Jade com o nervosismo de José. Então era tudo verdade. Aquela moça acabava de sequestrar o seu coração menino e ele nem havia tomado qualquer poção mágica. Estes ciganos...