Sólito - II

Manhã seguinte procurou-a, as mensagens eram-lhe enviadas sem retorno, não havia sequer confirmação de leitura. Racionalmente continha os sentimentos, retinha o desejo de telefonar-lhe e ir a sua casa. Embriagando-se em corpos despidos de amor e cobertos pelo efêmero prazer. Via os dias passarem e ampliar a distância que os apartava. Culpava-se por isso, não deveria ter sido tão ousado na noite daquela festa, assustada e confusa ela se quedou. Decidiu que daria o tempo que ela necessitasse para que se descobrisse. Permitiu-se viver aventuras, até cria ter se apaixonado. Pouca informação sabia sobre ela até que caminhando pelo centro da cidade seus olhos, como se estivesse numa busca implacável, avistou-a. Bela, sempre bela. Caminhava leve como a brisa das tardes ensolaradas da primavera, revestida de charme e sensualidade num misto incomum com a inocência e a sapiência. Seu corpo singelo e esguio, de contornos afinados era-lhe a tradução da sedução e entrega. Sentia-se um menino desengonçado, ajustava o modo de andar buscando dar-lhe um ar de imponência. Antes de trocarem quaisquer palavras cruzaram os olhos e sorrisos, os primeiros foram mais altivos que qualquer sintagma, o segundo convidativo ao abraço. Longo foi o abraço seguido por palavras descompassadas que sobrepunham um assunto a outro, tudo para que pudesse ficar junto a ela, mesmo que por um efêmero período. Ela não possuía olhos de cigana oblíqua e dissimulada, mas herdara de Capitu o olhar de ressaca que o arrastava para seu mundo e embriagava-o de sonhos. Não desviava o olhar como o fazia Bentinho, queria mesmo ser conduzido àquele mar de aventuras que gostaria de protagonizar. Restou-lhe um convite, tão simples aos espectadores, mas de valor ímpar.

- Passa lá em casa mais tarde, precisamos conversar.

Acenou confirmando antes de esboçar o sim. Possuía motivos exorbitantes para mergulhar-se em felicidade. Sim, sim, claro que sim – disse titubeando, não por dúvida, mas por ansiedade. Despediram-se. Ele observava-a seguir, seu andar flutuante, seus cabelos negros ao vento e toda a magia que a envolvia.

Amanda Danielle Carmo
Enviado por Amanda Danielle Carmo em 19/09/2018
Reeditado em 26/09/2018
Código do texto: T6453459
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