Aniversário
Matheus entrou no quarto escuro e fechou a porta atrás de si. Alice apertou um interruptor e uma série de luzes azuis e vermelhas se acenderam, dando ao ambiente um ar psicodélico e sensual
Matheus se sentou num sofá de couro e ficou observando Alice subir num pequeno palco no meio do quarto.
- E agora? – Ele perguntou.
- Bem. Eu tiro a roupa para você. E danço se você quiser.
- E ai?
- E ai que você faz o que você quiser. Pode se masturbar ou só ficar me olhando.
- Só olhando?
- É.
- Não parece ter muita graça.
- Mas é assim que funciona.
- E se eu quiser te tocar?
- Ai você vai ter que pagar um pouco mais.
- E quanto é um pouco mais?
- Duzentos... ou trezentos. Dependendo do que você quiser...
- Aqui mesmo?
- Não. Aqui eu só danço.
- Entendi.
- Então, o que vai ser?
- Dança.
Alice apertou um botão escondido sob o pequeno púlpito onde estava sentada. No mesmo instante a pequena superfície começou a girar lentamente. Alice começou a dançar no ritmo da música que vinha do exterior do quarto.
- Quer que eu tire a roupa?
- Vai custar alguma coisa para você fazer isso?
- Não. Já está incluso.
- Ok.
Ela deixou que seu biquíni decorado caísse no chão e expos o corpo.
Matheus ficou observando, com o olhar fixo. Ela quase podia ver suas pupilas dilatadas.
- Há quanto tempo você não vê uma mulher nua?
- Uns seis meses.
- Por quê? Você parece ser um cara interessante.
- Isso é parte do que você sempre diz aos seus clientes?
- Não. Raramente alguém vem aqui e me olha da mesma forma que você.
- E como é isso?
- Bem. Eles sempre me olham como se eu fosse um pedaço de carne, ou algum item de consumo em uma prateleira.
- E eu?
- Você só parece estar admirado.
- É. Realmente estou. Você é muito bonita.
- Obrigado.
Alice parou a dança e se sentou no colo de Matheus. Ele pareceu assustado de início, mas aos poucos foi relaxando, com a proximidade da mulher.
- Quantos anos você tem? – Ela perguntou.
- Fiz vinte e seis hoje.
- Sério? Parabéns!
- Obrigado, Alice.
- Por isso que veio aqui hoje? Para comemorar?
- Não exatamente. Eu vim por que não estava me sentindo muito bem em estar sozinho.
- Eu sei como é isso.
- Você não parece o tipo de mulher que fica muito tempo sozinha.
- Solidão pode ser uma escolha.
Matheus ficou calado, sem saber o que dizer e nem onde por as mãos... Seus olhos encontraram os de Alice e ele sentiu vontade de beijá-la. Mas imaginou que não fosse apropriado... ou mesmo permitido.
Ela quebrou o silêncio e falou com um sorriso.
- Você é tão bonzinho. Acho que merece um presente.
- Ah. Não precisa se ...
Alice o interrompeu quando saltou de seu colo e caiu de joelhos no chão. Ele a olhou de cima para baixo e viu seus olhos faiscando de lascívia.
Ela desabotoou sua calça, baixou o zíper e puxou o seu pênis para o lado de fora. O que não foi muito difícil, dado ao nível da ereção que ele tinha no meio das pernas.
Matheus não reagiu. Apenas a observou, enquanto ela tocava o seu membro com os lábios, sem tirar os olhos dos seus.
Ela sabia o que estava fazendo e não demorou para que acabasse com ele.
Ela realmente sabia o que estava fazendo. E não era apenas a respeito do sexo oral. Mas de tudo.
Talvez Alice tivesse talento para a psicologia, dada a velocidade com que ela entrou em sua cabeça.
Enquanto ele estava recostado no sofá, ofegante e perplexo por tudo o que tinha acontecido, Alice se arrastou como uma serpente e se aconchegou no sofá ao seu lado.
- Feliz aniversário, bebê.
Logo depois uma campainha tocou e Matheus percebeu que o tempo da dança tinha acabado.
- Acho que eu tenho que ir agora.
Alice apenas sorriu. Se afastou, pegou a roupa no chão e se vestiu.
Matheus saiu e retornou à boate.
Foi até o bar, tomou uma dose de uísque e seguiu até a saída.
Pagou tudo o que devia e ganhou a rua.
Andou uns três quarteirões até o seu prédio. O porteiro abriu o portão sem dizer nada, já o reconhecendo, e Matheus apenas o cumprimentou com a cabeça.
Seguiu pelo elevador e entrou no pequeno apartamento em que vivia.
Largou a roupa pela casa e caiu na cama, sem sequer tomar banho.
Adormeceu pensando nos lábios e nos olhos de Alice e em como algo daquele tipo poderia ter um preço.
Acordou de manhã, com batidas na sua porta.
Vestiu apressadamente uma calça jeans e abriu.
Deu de cara com Alice, que segurava uma garrafa de uísque.
- Ainda dá tempo de comemorar o aniversário?
- Como? - Matheus perguntou, confuso.
- Comemorar, ora. Eu e você.
- Não... Pergunto... como você me encontrou.
- Você não me reconheceu, mas eu te reconheci assim que te vi ontem. Eu moro no andar de cima. No 602.
- Ah... Entendi.
- Então... Posso entrar?
Matheus abriu um sorriso e se afastou para que ela entrasse em casa.
- Não liga pra a bagunça.
- Vai estar bem pior que isso quando terminarmos. – Ela disse, com um sorriso no rosto.
Matheus fechou a porta atrás de si e ficou observando Alice abrir a garrafa de uísque e tomar um gole diretamente do gargalo.
Era muito mais do que ele podia esperar para um domingo de manhã, como aquele.