Momentos
Ainda sinto o cheiro de Ouricuri velho de suas dormidas, espalhado por sua pele, reluzindo em minhas narinas. Sinto o olhar sincero, a inteligência sub-humana, o vingar do parto, seu abraço contra meu peito. Posso sentir sua insegurança com a minha ausência, porque é dessa forma que me sinto agora.
Sim... São lobos os que me cercam. Seu pesadelo passado, tem feito parte de minha rotina, acordo todos os dias com ele ao meu lado. Não posso vencer tantas feras, por isso, tive que aprender a lidar com toda essa situação. Tenho todos sob controle. Contigo, descobri a dança dos passos lentos e, através deles posso olhar para o céu todos os dias na esperança de novas primaveras.
Ainda sinto as presas que rasgaram sua alma e as fendas que abriram, admiro que tenha esquecido tudo e migrado para um novo plano. As minhas dores, continuam vivas, e embora adormecidas, assim como fogo, reacendem-se todas as manhãs, quando passa em minha rua um pastor com o seu rebanho. Sim... Nessa cena, revivo tudo outra vez, seu parto em minhas mãos e o dia que não apartei.
Nos momentos de transe, vejo-me sempre a fazer a mesma pergunta: “Por que te deixei partir?”. Mas, logo recordo, que eu era um ser tão frágil quanto você, incapaz de salvar a mim mesma. E, novamente volto a questionar: “Se tudo tivesse sido diferente onde estaríamos agora?”. Para esta pergunta, infelizmente não tenho respostas... Que pena.
SAUDADES BIA...