Notas melancólicas

Esse amargoso gosto que sinto...lindos e doces pensamentos que me vem, mas que esvanecem tão facilmente e rápido. Parecem ter gotas de amargura incrustidos em vários deles, como uma parede a ser pintada. Derrama gotas sobre o chão tão limpo, e mancha. E a morte vinha. Vinha todas as noites, e me oferecia sua mão tão branca, alva como neve, geladas como mármore. Calma... talvez não seja digno de te receber ainda.

Sentado na cama eu estava. Ele em pé na porta do quarto... olhou pra mim, começou a rir descontroladamente, sem nenhum motivo aparente. Fiquei apenas parado observando, sem reação. Foi sentando ao chão devagar. Do rosto risonho, foi virando um rosto expressivo de choro, até as lágrimas rolarem. O silêncio tão grande na casa foi quebrado por um riso tão contagiante, embora estranho... agora volta, mais forte, com um toque de angústia refinada. Eu também sentia aquilo. Ele certamente chorava por mim também, chorava por todos.

Cabeça entre os braços, que choro mais reconfortante, era como se lavasse a alma. Lavava a minha também, e se todos deixassem, eram lavadas também. Mas eles somente esperavam, perdidos em sí mesmo. De repente me ví chorando também. Já havia quase uma poça de lágrimas por alí. Que silêncio ruim aqui dentro...aqui dentro!

Levantei-o, e segurando-o, saímos dalí. Subimos pra cobertura do prédio, trigésimo quinto andar. Vento forte esvoaçava nossos cabelos. Mais leves agora, como se pudéssemos voar... Crepúsculos ao longe, montanhas azuis, como quase apagadas por quem desenhou. "O som da cidade é quase mudo aqui não é? Não precisamos ouvir eles, tá bom? Isso, deite sua cabeça sobre meu ombro, eu enxugo sua lágrimas. Você sabe que eu sempre vou te amar, e o amor jamais tem fim." "Sim, eu sei.

Eu também te amo. deixe que eu enxugue as suas também." Vento forte. Muitos pássaros voavam, desejaria ser um deles. Sentí seu abraço forte agora. E rapidamente a noite caía sobre nós.

"Olhe pra mim, vamos. Tudo isso nos limpou, e você sabe disso. Não seremos como eles, nunca." "Sim, acredito...vamos." Quantos momentos de pureza... já raríssimos por alí. "Precisamos olhar o crepúsculo mais vezes não acha?" "Sim, tem razão." Lágrimas ainda sobre o chão da cobertura. Eles já tão limpos, seguiram em direção ao mar.

Artur rocha
Enviado por Artur rocha em 12/09/2018
Reeditado em 10/03/2019
Código do texto: T6446453
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