CHÃO E UNIÃO
CHÃO E UNIÃO
Chão e União eram casados, tinham três filhos, Executivo, Legislativo e Judiciário.
Chão e União eram extremamente ricos mas não eram felizes, seus três filhos eram problemáticos e viviam dando dores de cabeça e decepções aos pais.
Executivo, um dos herdeiros da fortuna dos pais, sofria de cleptomania, tudo roubava, vivia cercado de gente de má fama. Metia-se em projetos duvidosos, cheios de vícios, desperdiçava recursos a mais não poder e sempre voltava aos pais para pedir mais, dizendo que fora enganado por amigos do peito, que tinham se aproveitado de sua boa-fé. Chão e União eram muito benevolentes e mesmo sabendo dos problemas de Executivo, acabavam, mesmo contrariados, sucumbindo a suas argumentações.
Legislativo era uma lástima, vadio, sem escrúpulos, passava seus dias a chantagear Executivo, sabia de suas maquinações e ameaçava contar tudo aos pais. Temeroso das possíveis consequências, Executivo repassava boa parte dos recursos recebidos a Legislativo, que assim seguia sua vida de bon vivant, fazendo proselitismo das ações de Executivo visando com isso ter acesso indireto cada vez maior à bolsa dos pais. Concomitantemente, vivia a bajular Chão e União em todos os lugares, procurando conseguir ainda mais benesses.
Judiciário era metido a besta, achava-se extraordinário, com inteligência bem acima da média, pernóstico, considerava-se o dono da verdade, mas trabalhava pouco, pautando sua conduta pela incoerência e falta de compromisso com prazos. Era também elegante, andava muito bem vestido, falava empolado, vendendo imagem de bem sucedido. Vez por outra chegava a trajar capas esvoaçantes, parecendo ser de outra galáxia, tudo para impressionar os incautos e também para comover Chão e União, fazendo sombra a Executivo e amedrontando Legislativo. Os pais choravam as pitangas com ele, descarregavam suas amarguras e desgostos com os outros filhos, Judiciário os ouvia e consolava. Mal sabiam, que Judiciário vivia a intimidar Executivo e Legislativo, para tirar proveito próprio e manter sua nababesca vida.
Os três filhos, não sabiam que União tinha um filho bastardo, chamado Povo da Silva, fruto de um relacionamento extra conjugal de União com Estelionato, um charmoso especulador. Povo da Silva vivia numa miséria sem par e agora cansado e revoltado de tanta penúria e descaso, resolvera ir à luta por seus direitos.
Procurara Chão exigindo que este tomasse providências rígidas quanto à postura e atitudes de seus filhos e, ao mesmo tempo, assumisse sua paternidade, dedicando a ele as atenções a tanto devidas e esquecidas, permitindo-lhe vida digna doravante. Pediu ainda que perdoasse Pátria pelo deslize, afinal, apesar de tudo, amava sua mãe.