Conversa de bar I
Oi, Machado, tudo bom?
- Tudo tranquilo, Capitu, sente-se e beba comigo.
- Bebo, mas ainda estou tentando te perdoar de ter posto em dúvida minha fidelidade.
- Eu te eternizei com este enigma, Capitu. Pare de reclamar, sei que no fundo não liga pra isso. Te dei olhos misteriosos. As pessoas que deixam algo oculto são sempre sedutoras.
- Às vezes, me dá uma certa preguiça dessa sedução que você venera. Pessoas sedutoras costumam ser muito solitárias.
- Continuo afirmando que você não liga pra isso.
- Se você tivesse pelo menos escrito a traição, poderia me deleitar com meu amante, seria pelo menos uma decisão, por mais vil que seja. Assim, do jeito que colocou, eu fiquei sem marido e sem saber se tive ou não uma outra experiência amorosa.
- Sua angústia está quase me tocando, Capitu. Sei que é difícil tornar-se indigna sem provas. Sem saber se fez ou não. De morar na dúvida.
- Queria um final melhor para mim, você poderia dormir comigo.
- Te criei com a esperança de que um dia me pedisse isso, minha bela. Eu sempre te quis, desde a primeira linha que escrevi sobre você.
- Você não tem medo?
- Gosto do medo, o vejo excitante. Além do mais, eu a conheço e sei onde estou me metendo. E quero provar do teu olhar descrito por mim com tanto desejo. Sempre tive vontade de desafiar o mar.
- Acho que já bebemos o suficiente, Machado. Vamos sair por esta noite estrelada, caminhar a esmo, e depois, Eros saberá de nós.
- Acho que ele sempre esteve nos esperando.