Sharp Objects: Falling (ep.7)
Era uma tarde quente de primavera (ah, tão doce, exalando sedução), as cortinas de renda esvoaçavam suavemente com a brisa que entrava pela janela aberta. Eu estava largada sobre o sofá, fazendo um esforço asceta, um tanto senhor das moscas mergulhado em histórias carrollianas. Árvore boa, maçã ruim. Eu sou a maça ruim, por óbvio.
Podia sentir a criatura que vivia dentro de mim, uma criatura que queria nada além de estabelecer o seu domínio. Mostrar o seu poder. O seu sinal de bondade é, ao mesmo tempo, o de maldade.
Levitei sobre a mesa de centro, parei em pé, feito uma mariposa grogue; andei costurando pelos corredores, incapaz de se concentrar, tomada por volições amorfas e desconexas, preservando, todavia, uma aura de arrogância contumaz. Senti que no escuro poderia ir muito além de uma facada nas costas. Não quero torna-me a incompreensão lamentosa das massas de ovelhas sentindo o ácido cheiro de um lobo se aproximando.
As moscas cantando em meu ouvido, enquanto tento imaginar o infinito, sua sinfonia adentrando meus tímpanos. Um desconforto aterrorizante. Senti-me transportando para uma imensurável dimensão, as sensações foram plausíveis, do poder ao apogeu. E então vi caindo como uma estrela-cadente, sorridentes olhos tinham se fechado numa escuridão interior, não absorviam mais o mundo lá fora.
Lembre-se: Não é seguro para você aqui.
“I wanna know you
ghost
I wanna touch you
ghost
I wanna feel you
ghost
My Mona Lisa
Ghost”
Ghost -The Acid.