AH, CORAÇÃO!

Ah, coração que insistes em provar que está batendo...

Ei gosto amargo deste momento, pior do que veneno.

Que traiçoeira é a vida nestes golpes que nos obriga enfrentar,

que sejas superadas as lidas que quase fazem este coração parar.

O Pastor devotado orava pela ovelha sobre aquela maca de hospital,

homem de fé, incansável em suas petições, animando a família, a comunidade e buscando animar a si mesmo.

Cruzam os corredores a equipe médica, o Doutor, jaleco impecável, muitos momentos como aquele preenchiam seu currículo, mas a esperança era a mesma. Suspeitava não ser Deus, temia suas próprias limitações, confiava em seu conhecimento, labutado anos a fio para dar-lhe autoridade e credibilidade de entrar naquela sala.

Empurrando a maca, com toda eficiência possível, trabalho honroso, rosto corado, a gotas de suor que insistiam em cair, agora encontram lugar na farda encharcada.

- Abram passagem por favor!

Grita o jovem bombeiro. Que não tem a mesma experiência do Doutor, ou a fé do clérigo, mas trabalha com as mesmas intenções, força, coragem e dedicação.

Salvar aquela vida é o alvo da equipe.

Em casa, a esposa não sabe o que fazer: chora, acalma as crianças, tenta dar alguma explicação coerente aos familiares que nem sempre ajudam, às vezes sobrecarregam com as melhores das intenções.

Na manhã seguinte o redator do jornal local confere a notícia, liga para o hospital, familiares, descobre a que religião pertencia o paciente, e o nome do Doutor que estivera trabalhando naquele momento. Pessoas de diversos lugares tomarão conhecimento deste caso, não por acaso, mas pelo trabalho da equipe que cobriu a matéria.

O poeta não foi ao hospital, não estava envolvido no resgate ou na recuperação, não faz parte da família e nem mesmo do jornal; mas tem um coração que bate, e que às vezes ameaça parar...

Escreve sobre as coisas da vida que nem sempre são as que queria, escreve pelo que tem vida, ou pelo que se morreria; mas que de tempos em tempos mantém seu respirar. O poeta também vive, também celebra a vida, procura salvar pessoas das tristezas outrora inibidas.

Não é pelo Pastor, ou bombeiro, sobre o Doutor, pelo repórter, ou família, que a vida faz suas peças, mas para que nosso coração continue, batendo pelo que interessa.