ELA (A MORTE)
Seu beijo não era frio como haviam me dito. Nem muito menos ela era fria. Beijá-la era brasa e eu queria com toda força me queimar.
Eu a conheci ainda nova e tive medo. Medo porque ela era forte e medo porque todos muito falavam dela e eu, ingênua que era, não a conhecia e ao desconhecido só se tem medo.
Aos onze eu passei do absoluto terror a um desejo a sua incógnita. Era o nosso começo, minha devoção secreta a ela. Aos quatorze eu já quase não sentia medo ou receio dela, mas continuava à admirar de longe. Eu a via poucas vezes ao dia, às vezes só uma única vez. Mas o que sentia era tão intenso, tão bonito, que chegava a chorar, meu coração já esquentava por ela. Somente dois anos depois ela me olhou pela primeira vez e eu perdi o ar, a terra, a água e me restou só o fogo, pois seu olhar era pólvora e faísca na minha vida gasolina. Eu tive certeza, eu a queria e ela havia me notado. Estava eu ali, perdidamente apaixonada.
Logo quando eu completei meus dezessete anos, o auge de minha adolescência, decidi que precisa precisava ousar. Pelo menos uma vez eu não podia me permitir passar por esta fase tão marcante na vida humana e não fazer nada, não concretizar meus sonhos e desejos, conhecendo as consequências, mas sem me importar com elas. Eu estava decidida.
Ficar sozinha com ela foi realmente difícil, estava nervosa, minha mão suava tanto que eu precisei respirar devagar para conseguir me acalmar. Ela estava tão linda e eu me perguntava como um dia pude ter algum medo. Naquele dia eu não mais estava apenas apaixonada, eu a amava. Arquitetei em minutos o que achava ser o plano perfeito.
A beijei.
Por um segundo eu esperava mais então intensifiquei o beijo e senti-me um vidro no fogo a ser moldado, era vermelho, quente, tão calmante e tão gostoso, uma completa mistura. Seus lábios macios, tão únicos que até hoje possuo dificuldade em comparar, uma mistura de mel e limão, que derretia e me arrepiava o corpo inteiro. Ela colocou as mãos em minha cabeça como quem segura algo valioso. Chorei de emoção me perguntando por que havia demorado tanto tempo para tomar a iniciativa e pensar nisso me lembrou meus medos, o medo que eu tinha, que eu tenho. Por um relance parei de corresponder, mas com um amargo tom de arrependimento tentei voltar atrás, tentei voltar a beijá-la. Nada em mim havia mudado, mas ela não gostou, afastou-se de mim, me empurrou e me olhou. Seu olhar tão forte doeu de uma forma que me levou ao inferno. Fiquei de cama, sem andar, comendo e bebendo o que me obrigavam. Três dias passei isolada, desejando jamais ter parado de beijar sua boca. Levou um mês para que eu conseguisse andar sozinha. Durante meus dezessete eu ainda tentei voltar a ter contato com seus lábios duas vezes, na última ela me olhou de volta, permitiu que eu abraçasse, mas se esquivou, me deixou tão só e tão triste.
Hoje, eu apenas a observo de longe, com o mesmo amor. Espero que minha amada retorne um dia os meus olhares e quando esse dia acontecer, não só a beijarei, mas a amarei de corpo inteiro até levá-la ao ápice e depois acompanhá-la na minha petite mort.