FERNANDO
Já cantava Lulu Santos, todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite. Dentre todos os sábados aquele era especial, Fernando enfim podia ser quem ele queria ser. Ele usava sutiã e passava um gloss, sem nenhuma vergonha, colocava uma peruca loira que combinava com seus olhos cor de mel. Era junho. Ele colocou sua camisa xadrez favorita e amarrou as pontas na cintura, vestiu um short jeans e sentiu tudo, ele era, enfim, ele mesmo.
A festa para qual Fernando foi estava animada, pessoas rindo, comendo, se divertindo, vários grupos, casais e pessoas sozinhas assim como Fernando, mas algumas pessoas o olhavam, Fernando levantava a cabeça e continuava a andar, ele era ele mesmo.
Era tarde, ele andava e a sensação de desconforto só aumentava e sua determinação diminuía. Os olhares, as risadas, acenos, ele era aceito? Mas ele era ele mesmo.
Fernando resolveu ir a uma parte mais fechada, tocava uma música animada, mas poucos casais dançavam. Mesmo lá sentado ele esperava que alguém o tirasse para dançar. Seu pedido foi atendido, pobre Fernando, entre sorrisos e enganações, pontapés, chutes e mentiras, ele estava machucado, não só pelo sangue que lhe escorria pela boca, mas pela sua alma. Agora a escuridão o perdia, entre uma música e outra ele sentiu, não era aceito, aquele não era o seu lugar.
Houve quem o entendia, pessoas como Fernando, justos, com olhos roxos, boca sangrando, eles dançavam sobreviventes a própria música. Aplausos os rodavam, nós existimos, gritava Fernando. NÓS EXISTIMOS, gritavam todos ao som da música. Eles existem, pensavam os calados.