Contos do Ver o Peso
De passagem pelo ver o peso, no mastro de uma das embarcações, Joca, um urubu do interior ficou a observar seus irmãos de espécie brigarem bastante por restos de comida. E quando um dos urubus todo lanhado, que participava da briga assentou-se também ao mastro, do seu lado, resmungando, ele quieto ouviu:
- puxa mais um dia de barriga vazia, mas amanhã tenho certeza que...
- Ei e você quem é? Não o vi na luta diária por comida.
- É. Meu nome é Joca e ocê?
O Urubu da cidade falou:
- Sou o 2015.
Olhando de baixo para cima Joca respondeu:
- Só primo teu , ara.
- Primo? Perguntou outro urubu, meio desconfiado.
- Sim, e vim arqui pruque não cunhecia o ar da tar de cidade, mas já vi que arqui num mi crio. Vixe tu ta tudo lanhado e inda vai dormi de barriga vazia.
- Por que tu conhece algum lugar diferente disso aqui?
- Ar sim. O meu paraísu.
- Como assim?
- Se tu quise bora lá, ver como é vive bão.
E os dois foram mata adentro. Chegando em Diamantina, logo ao amanhecer cada urubu estava com a sua alimentação. Não havia aquele montueiro brigando por uma migalha. E assim fora no almoço, no jantar e nos dias que se seguiram.
Acontece que o primo Joca viu seu congênito assentado num mourão da extensa fazenda, como se estivesse chorando e foi ao encontro a perguntar:
- Primu, o que tu tá sentindo. Cumeu muito né e num tava acustumado. É dor de bariga?
- Não primo, não é nada. Só estava pensando.
Mas piqueno tu tá esquisito. Conta por que essa cara de tristeza?
- É que não estou me adaptando ao local.
- Mas pruque, su primu? Num tem tudo aqui. Cumida farta e essa tranquilidade.
- É isso mesmo primo, esse excesso de tranquilide. Sou grato pelos dias aqui, por toda essa fartura, mas, estou morrendo de saudade lá do ver o peso, daquele puxa encolhe, do meu corpo lanhado, dos meus camaradas, dos dias de fome e das poucas migalhas.
- cumo assim?
- Ah você não vai entender. Só quem vive ou já viveu em Belém é quem sabe descrever essa explicação sem linhas