O MENTIROSO
Conto de:
Flávio Cavalcante
Conto de:
Flávio Cavalcante
Nem os mais catedráticos profissionais do ramo da psicologia conseguem entender o pivô da sua área que é a mente humana e isto pude comprovar com veemência nesse conto que relaciono como o ser humano é capaz de mudar constantemente de uma hora para outra, a sua atitude.
Parece estória de dona carochinha, mas posso afirmar que todo relato um fato ocorrido na minha bela Maceió.
Tudo aconteceu num lugar pacato de uma cidade do interior de algum lugar do Nordeste brasileiro, precisamente nas terras quentes do sertão alagoano.
Mendes era um artista anônimo, que participava de um grupinho de teatro local daquela região. Devido às suas gracinhas fora de fora, ficou conhecido entre os colegas do mesmo ramo como o palhaço da turma. Apesar de já carregar uma fama terrível de mentiroso desde a época em que frequentava a escola primária. A mentira era a sua companheira diária e muitas vezes chegava ao cúmulo do exagero. O pior de tudo isto era que ele acreditava na história que ele criava. Fazia jus a sua profissão de ator. Se tivesse que se emocionar com certeza ele se emocionaria e todos acreditavam naquele dramalhão. De fato ele tinha um poder de convencimento incrível.
Numa determinada final de tarde, os colegas de Mendes se reuniram para fazer uma leitura dramatizada do texto que eles estavam ensaiando e já com o espetáculo marcada a estreia.
Todos foram chegando e se aconchegando nos bancos do espaço cênico esperando o restante do elenco chegar. Mendes estava isolado num canto tentando decorar a sua fala da peça.
Um dos seus colegas se aproximou do moribundo calado e tentou fazer uma gracinha na frente dos demais colegas.
- Mendes, meu caro... Você está tão calado... Manda uma mentira daquelas que você manda tão bem...
Mendes fitou os olhos para o dito engraçadinho e retrucou com a descida de pestana demonstrando uma profunda tristeza e aquela expressão chamou a atenção dos demais. Uma das atrizes o abraçou solidariamente mesmo sem saber o motivo de sua tristeza.
* Não fique assim, Mendes... Não sabemos o que está acontecendo, mas seja lá o que for, quero que saiba que somos seus amigos e estamos do seu lado pra o que der e vier.
- Obrigado, amiga... Mas hoje eu nem deveria ter saído de casa. Minha faleceu e eu não tenho um centavo para fazer o seu enterro... (Dênis se esvaiu em lágrimas, comovendo a todos ali presente. Todos o abraçaram e choraram juntos com ele. Até o engraçadinho morrendo de vergonha pediu a ele muitas desculpas, prometendo que cada um do elenco ia ajudar com uma grana para ele fazer um enterro digno pra sua mãezinha.
Fizeram um cata nos bolsos dos colegas para ajudar o amigo que passava por aquele momento tamanha dor.
O enterro foi hora marcada pelo próprio Mendes e os amigos do Teatro condolentes com a situação difícil do amigo, saíram convidando os outros colegas de outros grupos de teatro para dar o apoio necessário naquela hora bastante difícil que o Dênis estava mais precisando, além de fazerem uma campanha para arrecadar mais dinheiro, caso houvesse uma maior despesa.
Finalmente chegou a hora marcada do enterro e todos se reuniram para ir em procissão à casa do Mendes prestar a última homenagem à sua mãe. Chegando lá, tocaram a campainha, a empregada da família abriu a porta e se assustou com a quantidade de gente chorando na porta. Mendes estava na sala deitado se balançando numa confortável rede, levantou abrindo aquele e deixando todos perplexos com a atitude do moço; pois, esperavam encontrar um homem abatido e num clima de muita tensão.
Um dos amigos não se controlou e chorou muito alto, abraçou o Denis e chorou deu as condolências. Denis na cara de pau interrogou o amigo.
- Condolências? Posso saber o por quê?
*Viemos todos para o velório de sua mãe e lhe abraçar nessa hora tão amargurada.
Denis simplesmente caiu em gargalhadas chegando a soluçar.
- E vocês acreditaram na minha história? Vocês são muito burros mesmos... (E chamou a sua mãe).
-Mãe... venha aqui provar que a senhora está vivinha da Silva; pois os meus amigos do Teatro acabaram de lhe matar.
A ficha caiu para todos naquele momento e viram que mais uma vez foram golpeados pelas brincadeiras do Mendes, deixando aquela casa num Mar de muita confusão. O mentiroso teve que ser amparado pela própria mão para não apanhar dos colegas. Tudo só foi acalmado quando a polícia local chegou e a pedido da própria mãe, Denis foi poupado de levar uma surra dos próprio colegas do Teatro.
FIM