JUSCA

Quando Jusca chegou em casa bêbado pela primeira vez sua mãe lhe deu um grande castigo. Obrigou-o a tomar banho gelado. E era uma época em que o inverno estava mais vigoroso. Jusca, entretanto, não chorou com as fustigadas de sua mãe embaixo das águas geladas. Jusca era forte. Jusca era o melhor.

Certo dia, Jusca desafiou-a em sua casa. Era um dia de sábado. Dia em que geralmente todas as famílias do bairro se decidem a organizar as casas para receberem os familiares para o fim de semana. E Jusca ficava entediado ao ser obrigado a conversar com seus primos e primas. Jusca era prontamente ativo. Dizia:

- Para o diabo com os tios e tias! Eu quero meus amigos da rua!

No sábado de limpeza era possível ouvir os gritos de menino-homem do Jusca.

- Eu não vou arrastar sofá coisa alguma!

Batia forte a porta e o portão para mostrar que ninguém possuía autoridade sobre ele. Saia sem pedir licença e sem dizer para onde ia. Todos sabiam, no entanto, seu destino. O Casebre.

O Casebre era muito antigo. Ficava escondido no meio da mata e diziam que ali moraram duas senhoras durante muito tempo.

Após a morte das duas senhoras, o local ficou abandonado. Até que um dia resolveram entrar para conhecerem o ambiente, já que nenhum parente aparecera ao enterro das duas que, misteriosamente, haviam falecido no mesmo dia; uma após a outra.

Entraram e descobriram que ali havia várias garrafas de bebidas muito fortes. Bebidas desconhecidas do popular. Como que inventadas pelas duas senhoras.

Joaquim, um homem bem conhecido da cidade, resolveu instalar ali, com permissão das autoridades, um bar. Mas o que ninguém desconfiava era que Joaquim durante muito tempo oferecia gratuitamente as bebidas preparadas pelas duas senhoras.

Muitos acorriam ao lugar por causa da sensação que a bebida lhes causava.

- Joaquim, isto é uma bebida dos deuses!

- Por favor Joaquim, mande mais deste néctar!

Jusca ficou tão fascinado pelo lugar e pelas bebidas que sempre ao discutir com sua mãe tomava o caminho para o Casebre.

Foi assim que Jusca na noite de ontem chegou bêbado em casa. Todos da casa sabiam de onde ele vinha. Entretanto era a primeira vez que Jusca chegava naquelas condições.

- Seu moleque de araque! Bem que eu sabia que você não ia dar em nada na vida!

Sua mãe berrava tanto que a vizinhança toda ouvia. O medo era de que ela o matasse naquela mesma noite.

Os policiais foram chamados duas horas depois. Duas horas depois ainda se ouvia o estalar da vara nas costas nuas e úmidas de Jusca. Um dos policias gritou de fora:

- Senhora, senhora, é a polícia! Abra, por favor!

Neste momento, todos já estavam na rua. Amigos de Jusca, vizinhos desconhecidos... Havia pelo menos, ali, umas cem pessoas. Todas acompanhavam o drama do garoto de 12 anos.

Os amigos de mesma idade imaginavam se seria o fim de todas as aventuras até ali vividas. As saídas escondidas durante a noite, as idas ao Casebre após a aula, dois dias fora de casa perdidos em alguma floresta... A descoberta da vida...

Jusca era o líder nato. O mais forte. O mais apto a guiar o bando.

Quando a polícia arrombou a porta, muitos puderam olhar para dentro da casa e ver, espantados, uma mulher sôfrega, de cabelos bagunçados e olhar colérico.

- O que querem comigo? Saiam da minha residência!

- Senhora...

- Saiam!

A mãe de Jusca segura duas varas com as quais provavelmente utilizara para bater nele. Mas o que mais deixou a todos atônitos foi a imagem do menino ensanguentado e nu. Seus cabelos presos pela mão materna. Seus olhos fechados.

- Este moleque vai aprender a respeitar os mais velhos... vai aprender... vai aprender...

Devido a forte cena, as mães levaram as crianças para casa.

Dias depois se soube que Jusca não havia resistido aos ferimentos. Sua mãe fora presa. E a casa abandonada.

Joaquim, passadas algumas semanas, sussurrou a um amigo no Casebre que ali poderia se tornar um novo lugar para sua venda. E o amigo confirmou.

WAMOURA
Enviado por WAMOURA em 23/06/2018
Código do texto: T6372245
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