FISCAL DE ATENDIMENTO

SEGUNDA-FEIRA, calor inesperado. Entrei na cafeteria e três atendentes prestimosas apressadas para me atender. Uma puxou a cadeira, veio ventiladorzinho de pilha, terceira indicou cardápio. Arrumei papel na prancheta, rascunhei plano de aula, professor amador voluntário. Café da manhã saboroso - tradicional café com leite (minha gulosa mulher escolheria imediatamente achocolatado), suco de abacaxi ("Não tem de pitanga?" - inventaria 'desejo', que cientificamente não existe), pão de ló (nissei sorriu toda delicadinha: "Marguerita, receita da região portuguesa do Aveiro, senhor..." - bolo, não o nome dela), creme de leite com nozes e quadradinhos de queijo. Dispensei outros acepipes, iguarias finas. Fui visto escrevendo... mas exatamente o quê aos olhos delas?! Paguei, uma perguntou secretamente se a entrega do relatório seria imediata - não entendi, mas não recusei resposta, apelei para o indefinível "...sempre", e por minha conta: "Nota onze nas qualidades. Boa sorte!" Sorriram-se. --- QUARTA-FEIRA. Vizinha, contista-cronista como EU, veio nos dizer que "o mundo voltou a ser educado"... Um atendente jovem a ajudou nas compras do mercadinho recém-inaugurado, escolheu junto as melhores frutas, empurrou o carrinho pesadão até a porta, chamou o táxi e recusou gorjeta (palavra dela, nota de dez na mão). Assustou-se com tanta gentileza a uma mulher idosa desconhecida. Minha mulher se comoveu com antecipação a si própria. --- SÁBADO NA ESTRADA. Posto de gasolina. EU acabara as tarefas matinais em cidade próxima. Chuva miúda, sinal do final de outono, frio leve ainda. Pequena fila para o combustível. Levei um susto porque de repente mediram a minha pressão arterial e ofereceram chá quente e biscoitos. Ih... tudo gratuito. Chamaram para conferir a limpeza dos banheiros. Dizer o quê? Agradeci, falei sem querer "boa sorte!" - tanque cheio, paguei, fui para casa. --- É que inventaram há tempos um tal SHERLOCK HOLMES de atendimento e certamente me confundiram (não, nada de pedigree, tampouco dedo duro) ... com um CLIENTE OCULTO, aparente consumidor comum, na verdade um fiscal cadastrado: colaboradores com perfis versáteis, de 18 a 70 anos, diferentes classes sociais, que ganham uma graninha para avaliar atendimentos em geral e fazer imparcial relatório escrito, detalhado sobre a experiência vivenciada em lojas comerciais de diferentes setores, hotéis, academias, bancos etc. A empresa contratante quer corrigir pequenas falhas, reciclar funcionários (não é demitir!) e aperfeiçoar os serviços...

CLIENTE OCULTO em escritório de advocacia?! Meu "cliente oculto" para me fiscalizar e à saída me entregar relatório? Quem contratou? EU mesmo: contratei, esqueci... Gostei, ideia engenhosa...

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LEIAM meus trabalhos CLIENTA... OCULTA e MINHAS CURTAS FÉRIAS.

FIM

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 23/06/2018
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