FRANCK CALDEIRA E O LIGEIRINHO - HERÓIS DE UMA MARATONA
Naquela manhã de setembro de 2007, o sol emitia a sensação mais ardorosa e abafada no sertão, um jovem ruralista que atende pelo nome de Geraldo conhecido nos povoados vizinhos pelo apelido de “Ligeirinho” por demonstrar aptidões desde a infância como um futurista corredor, filho único de dona Teresa, viúva e com idade avançada, o garoto de 15 anos atravessa o riacho dos Cocos, imaginativo com o estado de saúde de sua mãe, percorre diariamente o mesmo trajeto até a roça que fica à quase três léguas equivalente a dezoito quilômetros.
Sem tomar o café da manhã, despido da cintura para cima, Geraldo se prepara para mais uma jornada entre os caminhos vicinais e veredas acobertadas pela caatinga. Adentro o prazer e aspirações desse jovem corredor em fazer nas manhãs um percurso longínquo até o local de trabalho, vivendo exclusivamente da roça.
Descendo ladeiras pedregosas e terrenos íngremes, ali estava o pequeno corredor da localidade “Morada Nova” no Segundo Distrito de Caxias do Estado do Maranhão, incansavelmente não parava os passos, saltando buracos escarpados, mandacarus, riachos e pisando firme nas folhas de tucuns.
O relógio amarelo guiado na posição vertical e horizontal nos céus, mostrava ao menino que a labuta chegava ao final de mais uma derruba no meio do sertão caxiense, era a hora de preparar as pernas numa velocidade impressionante por dentro da mata, pois, cada minuto transformava-se numa agonia ao chegar na residência observando sua mãe deitada na rede. Momento em que indaga.
-Mãe! O que a senhora está sentindo? Já tomou o chá de capim-limão?
-Tô sentindo dores, já tomei o remédio e a dor está passando.
-Mãe! Não se preocupe que Deus vai me ajudar e vou pagar a cirurgia.
-Meu filho é muito dinheiro! Onde nós vamos tirar seis mil reais?
-Eu não sei, mais Deus vai abrir um caminho. Já tenho mil reais do arroz e milho que vendi. Se não fosse o tal do SUS, a senhora já estava boa, mas de qualquer jeito eu vou levar a senhora pra Teresina no Piauí.
-Deus te ouça meu filho!
No dia seguinte, Geraldo acende o fogareiro e faz o chá de capim-limão entregando a sua mãe que abençoa pelas bondosas palavras, saindo o guri em disparada carreira rumo ao roçado, momento em que passa pelo lugarejo “Abrigo”, encontrando no caminho o proprietário João da Sinhá que logo cumprimenta.
-Bom dia seu João!
-Bom dia Ligeirinho! Como vai dona Tereza? Está melhor?
-Ela teve uma recaída, agora está bem.
-Você gosta de correr muito, né? Seria muito bom se você corresse na cidade.
-Eu não tenho condições de correr lá, apesar de que a mãe está doente e somente eu cuido dela.
-Verdade meu filho! Ontem, ouvi no rádio que o Armazém Paraíba está promovendo uma grande maratona de rua e o prêmio é de quinze mil reais para o vencedor. Você deveria se inscrever logo, tenho certeza que você ganha.
-Seu João, não tô sabendo disso não. Amanhã mesmo vou me cadastrar e com o dinheiro dessa corrida vou fazer a operação da mãe.
-Tenho certeza que você ganha esta corrida, logo sua mãe irá ficar boa. Ligeirinho! O que foi isto no seu pé?
-Foi um espinho de tucum, tá inflamado mais assim mesmo não paro de correr, é a vida seu João!
-Ligeirinho, não faça isso! O seu pé tá muito inflamado.Entre homem que vou chamar a Sinhá pra tirar o espinho e passar remédio.
A esposa do morador retira o espinho e passa medicamentos no ferimento, instante em que o seu João indaga.
-Me diz uma coisa, Ligeirinho! Você não usa tênis pra correr?
-Eu não tenho seu João! Todo mês eu ajunto um dinheirinho pra compra um tênis, e você sabe quando a mãe adoece tenho que usar o dinheiro pra comprar remédios. Eu já fiz de tudo mais a condição é pouca, ainda não deu. O meu padrinho que mora na Sambaíba me disse que ia trazer no meu aniversário, só que já faz uns três anos e este presente nunca chegou.
-Você quer um tênis usado pelo meu filho que mora na cidade? Estão todos bons e dá pra quebrar um galho danado pelos matos, assim evita furar os pés.
O menino recebe o par de tênis, e os olhos transbordam gotas que deslizam na face.
-Não chore Ligeirinho! Um dia você será um campeão! Se eu pudesse lhe mandaria pra cidade. Lá na cidade você tem melhores condições, aí você aproveita, vai ao Armazém Paraíba e faça a sua inscrição.
Com os tênis nos pés, Ligeirinho parecia voar e sorrir de alegria pisando levemente entre as rochas, pedras e espinhos, desenvolvendo com mais garra e velocidade nos treinos a caminho da roça, cortando os igarapés-mirins e penetrando na caatinga.
Na manhã bem cedo, a esposa do seu João, dona Sinhá havia colocado uma mesinha debaixo do pau-pombo com uma bandeja contendo bananas, laranjas e fatias de mamão, pois o casal sabia da precariedade do menino que precisava de uma boa alimentação, logo Ligeirinho percebeu que tal oferenda era o espelho representado por uma ajuda, passando daí em diante, um cotidiano o café da manhã do corredor do sertão.
E por onde Ligeirinho passava, crianças, adultos e velhos observavam a ligeireza das pernas daquele frágil e emagrentado corpo pisando seguro num tênis azul nas redondezas do povoado “Vaca Morta”, um menino curioso diz a sua mãe.
-Olha mãe! O ligeirinho comprou um tênis azul.
-Agora tá em ritmo acelerado! Disse sorrindo a mãe do menino.
Sucessivos dias foram eficazes para que o menino Geraldo ao adentrar na sua residência encontrasse dinheiro para pagar sua inscrição doado pela família de João da Sinhá, impulsionado pela alegria fala com Dona Tereza.
-Mãe! Eu vou me cadastrar na Maratona do Armazém Paraíba, e tenho certeza que ganhar o dinheiro pra fazer a sua cirurgia.
-Vá com Deus meu filho! E não se preocupe comigo, a Francisco do Tomé vai ficar aqui em casa esses dias.
Na cidade de Caxias(MA), a festividade daquela maior loja de eletrodomésticos do norte e nordeste do Brasil, o Armazém Paraíba recebia diversos corredores do país para a primeira maratona na cidade dos cocais, e na classificação geral, o jovem ruralista do povoado Morada Nova consegue o vigésimo nono lugar entre os duzentos e dez corredores inscritos.
No dia da grande largada, Ligeirinho com uma camiseta estampada com o símbolo do Armazém Paraíba, salta os olhos brilhos vibrantes entre tantos atletas, o coração não esquece os últimos minutos em que estivera com a mãe, pensativo em ganhar a prova olha para o céu.
É dada a largada da maratona dos 8.000 mil metros, o sinal luminoso acende, Ligeirinho dar grande arrancada na prova bastante disputada, atingindo o nono lugar depois de ter contornado a Avenida Senador Alexandre Costa e retornar pelo centro da cidade atingindo o bairro Volta Redonda pela BR 316, com tal proeza que supera a tristeza da vida no campo, o pequeno corredor ultrapassa seus adversários, galgando o quarto lugar, à frente ia o medalhista de ouro dos Jogos Pan-Americanos 2007 Frank Caldeira que mantinha distância equilibrada com o tempo de 48 minutos e 30 segundos.
Ligeirinho cada vez mais, se aproximava do primeiro colocado Frank Caldeira perfazendo uma diferença de 400 metros no asfalto quente da BR 316, o público formado por milhares de pessoas que assistiam a maior maratona de rua da Princesa do Sertão Maranhense, davam aplausos e incentivos, oportunidade em que Ligeirinho ouviu as vozes dos familiares do João da Sinhá e de tantos outros amigos dos lugarejos por onde corria.
-Corra Ligeirinho! Corra! A vitória é nossa! Dizia o amigo João da Sinhá.
Outros incentivavam.
-Corra Ligeirinho!
-Vai fundo Ligeirinho que ninguém te vence!
-Viva a Morada Nova!
-Vai! Vai! Vai! Ligeirinho!
Vai Ligeirinho, corre mais! Não deixa o homem de pegar!
A força bate mais uma vez nos pés de aço do sertanejo, o sol queimando o rosto e a sede era constante, empregando gigantescos passos ao lado do grande maratonista do Pan-2007, o mineiro Franck Caldeira, momento em que Ligeirinho estando mais da metade do caminho entre a avenida Pirajá, impôs uma diferença de 100 metros em Franck Caldeira, restando apenas 400 metros ao portal de chegada na Praça Panteon no centro da cidade.
Subitamente, a sola do tênis do corredor do sertão separa-se do pé direito, porém, com fé ainda mantém a diferença, o campeão e medalhista do Pan – Franck Caldeira, observa o solado lançado nas chamas ardentes do asfalto e se comove com a verdadeira luta daquele corredor do agreste, sem qualquer esperança, a outra sola do tênis doado pelo amigo João da Sinhá, desprende-se, logo, Ligeirinho embate com os pés na fervura negra do asfalto. Os solados vão ficando para trás, Franck mais uma vez olha naquela última esperança de brilhar no pódio vencendo o medalhista do Pan-2007. Assim, o menino dos pés furado de tucum não consegue pisar firme no ardente solo, os sonhos vão permanecendo na obscuridade distanciando das promessas de levar para casa a salvação de sua mãe, enquanto o maratonista Franck consegue o 1º. Lugar recebendo calorosas vibrações do público, Ligeirinho consegue o 2º. lugar caindo no chão de dor, e o sangue que jorra dos ferimentos não cicatrizados demonstram ao público presente que numa batalha pela vida ou numa competição esportiva os laços de humildade ainda existem, sendo confortado pelos abraços do medalhista do Pan, e o povo aplaude as emoções agonizantes do pequeno e grande jovem do sertão ao lado do grande medalhista do Pan-2007.
O campeão dos 8.000 metros da maratona de rua de Caxias, o mineiro Franck Caldeira agradece ao público recebendo o premio ofertado pelas lojas do Armazém Paraíba, instantes em que desce do pódio e abraça Ligeirinho, lagoas de pranto molham o ombro do maior do corredor do Brasil, palavras harmoniosas invadem o coração do menino sertanejo, o trabalhador braçal.
-Você é o vencedor Ligeirinho! Não chore! Vejo que você já chorou demais em muitas noites. O homem não é super-homem, vejo nos seus olhos a simplicidade da realização de um desejo. Ninguém faz o que você fez nesta maratona! Este é o seu premio e você é o campeão.
Novamente as lágrimas respigam no asfalto, oportunidade em que enfermeiros e médicos dão pronto atendimento. Ainda cansado, Ligeirinho diz.
-Eu não sei como agradecer, eu não sei Franck! Saiba que sou o seu fã e assistir a tua vitória no Pan-2007 pela emissora da Radio Globo.
-Obrigado! Tenho certeza que este premio irá realizar algo mais importante do que esta maratona. Eu sei que Deus me enviou para esta cidade e receber este premio pra você, eu não sei explicar, mas outro não poderia ganhar esta maratona se não fosse você.
Ligeirinho abraça mais uma vez o campeão, a imprensa e as redes de televisão invadem o local.
Assim é o amor e a solidariedade caminhando sempre unidos,
Quando concebemos algo de importante é por amor e verdade,
Não importa a forma e o desejo de saciar os sonhos que vão se tornando realidade.
Naquela manhã de setembro de 2007, o sol emitia a sensação mais ardorosa e abafada no sertão, um jovem ruralista que atende pelo nome de Geraldo conhecido nos povoados vizinhos pelo apelido de “Ligeirinho” por demonstrar aptidões desde a infância como um futurista corredor, filho único de dona Teresa, viúva e com idade avançada, o garoto de 15 anos atravessa o riacho dos Cocos, imaginativo com o estado de saúde de sua mãe, percorre diariamente o mesmo trajeto até a roça que fica à quase três léguas equivalente a dezoito quilômetros.
Sem tomar o café da manhã, despido da cintura para cima, Geraldo se prepara para mais uma jornada entre os caminhos vicinais e veredas acobertadas pela caatinga. Adentro o prazer e aspirações desse jovem corredor em fazer nas manhãs um percurso longínquo até o local de trabalho, vivendo exclusivamente da roça.
Descendo ladeiras pedregosas e terrenos íngremes, ali estava o pequeno corredor da localidade “Morada Nova” no Segundo Distrito de Caxias do Estado do Maranhão, incansavelmente não parava os passos, saltando buracos escarpados, mandacarus, riachos e pisando firme nas folhas de tucuns.
O relógio amarelo guiado na posição vertical e horizontal nos céus, mostrava ao menino que a labuta chegava ao final de mais uma derruba no meio do sertão caxiense, era a hora de preparar as pernas numa velocidade impressionante por dentro da mata, pois, cada minuto transformava-se numa agonia ao chegar na residência observando sua mãe deitada na rede. Momento em que indaga.
-Mãe! O que a senhora está sentindo? Já tomou o chá de capim-limão?
-Tô sentindo dores, já tomei o remédio e a dor está passando.
-Mãe! Não se preocupe que Deus vai me ajudar e vou pagar a cirurgia.
-Meu filho é muito dinheiro! Onde nós vamos tirar seis mil reais?
-Eu não sei, mais Deus vai abrir um caminho. Já tenho mil reais do arroz e milho que vendi. Se não fosse o tal do SUS, a senhora já estava boa, mas de qualquer jeito eu vou levar a senhora pra Teresina no Piauí.
-Deus te ouça meu filho!
No dia seguinte, Geraldo acende o fogareiro e faz o chá de capim-limão entregando a sua mãe que abençoa pelas bondosas palavras, saindo o guri em disparada carreira rumo ao roçado, momento em que passa pelo lugarejo “Abrigo”, encontrando no caminho o proprietário João da Sinhá que logo cumprimenta.
-Bom dia seu João!
-Bom dia Ligeirinho! Como vai dona Tereza? Está melhor?
-Ela teve uma recaída, agora está bem.
-Você gosta de correr muito, né? Seria muito bom se você corresse na cidade.
-Eu não tenho condições de correr lá, apesar de que a mãe está doente e somente eu cuido dela.
-Verdade meu filho! Ontem, ouvi no rádio que o Armazém Paraíba está promovendo uma grande maratona de rua e o prêmio é de quinze mil reais para o vencedor. Você deveria se inscrever logo, tenho certeza que você ganha.
-Seu João, não tô sabendo disso não. Amanhã mesmo vou me cadastrar e com o dinheiro dessa corrida vou fazer a operação da mãe.
-Tenho certeza que você ganha esta corrida, logo sua mãe irá ficar boa. Ligeirinho! O que foi isto no seu pé?
-Foi um espinho de tucum, tá inflamado mais assim mesmo não paro de correr, é a vida seu João!
-Ligeirinho, não faça isso! O seu pé tá muito inflamado.Entre homem que vou chamar a Sinhá pra tirar o espinho e passar remédio.
A esposa do morador retira o espinho e passa medicamentos no ferimento, instante em que o seu João indaga.
-Me diz uma coisa, Ligeirinho! Você não usa tênis pra correr?
-Eu não tenho seu João! Todo mês eu ajunto um dinheirinho pra compra um tênis, e você sabe quando a mãe adoece tenho que usar o dinheiro pra comprar remédios. Eu já fiz de tudo mais a condição é pouca, ainda não deu. O meu padrinho que mora na Sambaíba me disse que ia trazer no meu aniversário, só que já faz uns três anos e este presente nunca chegou.
-Você quer um tênis usado pelo meu filho que mora na cidade? Estão todos bons e dá pra quebrar um galho danado pelos matos, assim evita furar os pés.
O menino recebe o par de tênis, e os olhos transbordam gotas que deslizam na face.
-Não chore Ligeirinho! Um dia você será um campeão! Se eu pudesse lhe mandaria pra cidade. Lá na cidade você tem melhores condições, aí você aproveita, vai ao Armazém Paraíba e faça a sua inscrição.
Com os tênis nos pés, Ligeirinho parecia voar e sorrir de alegria pisando levemente entre as rochas, pedras e espinhos, desenvolvendo com mais garra e velocidade nos treinos a caminho da roça, cortando os igarapés-mirins e penetrando na caatinga.
Na manhã bem cedo, a esposa do seu João, dona Sinhá havia colocado uma mesinha debaixo do pau-pombo com uma bandeja contendo bananas, laranjas e fatias de mamão, pois o casal sabia da precariedade do menino que precisava de uma boa alimentação, logo Ligeirinho percebeu que tal oferenda era o espelho representado por uma ajuda, passando daí em diante, um cotidiano o café da manhã do corredor do sertão.
E por onde Ligeirinho passava, crianças, adultos e velhos observavam a ligeireza das pernas daquele frágil e emagrentado corpo pisando seguro num tênis azul nas redondezas do povoado “Vaca Morta”, um menino curioso diz a sua mãe.
-Olha mãe! O ligeirinho comprou um tênis azul.
-Agora tá em ritmo acelerado! Disse sorrindo a mãe do menino.
Sucessivos dias foram eficazes para que o menino Geraldo ao adentrar na sua residência encontrasse dinheiro para pagar sua inscrição doado pela família de João da Sinhá, impulsionado pela alegria fala com Dona Tereza.
-Mãe! Eu vou me cadastrar na Maratona do Armazém Paraíba, e tenho certeza que ganhar o dinheiro pra fazer a sua cirurgia.
-Vá com Deus meu filho! E não se preocupe comigo, a Francisco do Tomé vai ficar aqui em casa esses dias.
Na cidade de Caxias(MA), a festividade daquela maior loja de eletrodomésticos do norte e nordeste do Brasil, o Armazém Paraíba recebia diversos corredores do país para a primeira maratona na cidade dos cocais, e na classificação geral, o jovem ruralista do povoado Morada Nova consegue o vigésimo nono lugar entre os duzentos e dez corredores inscritos.
No dia da grande largada, Ligeirinho com uma camiseta estampada com o símbolo do Armazém Paraíba, salta os olhos brilhos vibrantes entre tantos atletas, o coração não esquece os últimos minutos em que estivera com a mãe, pensativo em ganhar a prova olha para o céu.
É dada a largada da maratona dos 8.000 mil metros, o sinal luminoso acende, Ligeirinho dar grande arrancada na prova bastante disputada, atingindo o nono lugar depois de ter contornado a Avenida Senador Alexandre Costa e retornar pelo centro da cidade atingindo o bairro Volta Redonda pela BR 316, com tal proeza que supera a tristeza da vida no campo, o pequeno corredor ultrapassa seus adversários, galgando o quarto lugar, à frente ia o medalhista de ouro dos Jogos Pan-Americanos 2007 Frank Caldeira que mantinha distância equilibrada com o tempo de 48 minutos e 30 segundos.
Ligeirinho cada vez mais, se aproximava do primeiro colocado Frank Caldeira perfazendo uma diferença de 400 metros no asfalto quente da BR 316, o público formado por milhares de pessoas que assistiam a maior maratona de rua da Princesa do Sertão Maranhense, davam aplausos e incentivos, oportunidade em que Ligeirinho ouviu as vozes dos familiares do João da Sinhá e de tantos outros amigos dos lugarejos por onde corria.
-Corra Ligeirinho! Corra! A vitória é nossa! Dizia o amigo João da Sinhá.
Outros incentivavam.
-Corra Ligeirinho!
-Vai fundo Ligeirinho que ninguém te vence!
-Viva a Morada Nova!
-Vai! Vai! Vai! Ligeirinho!
Vai Ligeirinho, corre mais! Não deixa o homem de pegar!
A força bate mais uma vez nos pés de aço do sertanejo, o sol queimando o rosto e a sede era constante, empregando gigantescos passos ao lado do grande maratonista do Pan-2007, o mineiro Franck Caldeira, momento em que Ligeirinho estando mais da metade do caminho entre a avenida Pirajá, impôs uma diferença de 100 metros em Franck Caldeira, restando apenas 400 metros ao portal de chegada na Praça Panteon no centro da cidade.
Subitamente, a sola do tênis do corredor do sertão separa-se do pé direito, porém, com fé ainda mantém a diferença, o campeão e medalhista do Pan – Franck Caldeira, observa o solado lançado nas chamas ardentes do asfalto e se comove com a verdadeira luta daquele corredor do agreste, sem qualquer esperança, a outra sola do tênis doado pelo amigo João da Sinhá, desprende-se, logo, Ligeirinho embate com os pés na fervura negra do asfalto. Os solados vão ficando para trás, Franck mais uma vez olha naquela última esperança de brilhar no pódio vencendo o medalhista do Pan-2007. Assim, o menino dos pés furado de tucum não consegue pisar firme no ardente solo, os sonhos vão permanecendo na obscuridade distanciando das promessas de levar para casa a salvação de sua mãe, enquanto o maratonista Franck consegue o 1º. Lugar recebendo calorosas vibrações do público, Ligeirinho consegue o 2º. lugar caindo no chão de dor, e o sangue que jorra dos ferimentos não cicatrizados demonstram ao público presente que numa batalha pela vida ou numa competição esportiva os laços de humildade ainda existem, sendo confortado pelos abraços do medalhista do Pan, e o povo aplaude as emoções agonizantes do pequeno e grande jovem do sertão ao lado do grande medalhista do Pan-2007.
O campeão dos 8.000 metros da maratona de rua de Caxias, o mineiro Franck Caldeira agradece ao público recebendo o premio ofertado pelas lojas do Armazém Paraíba, instantes em que desce do pódio e abraça Ligeirinho, lagoas de pranto molham o ombro do maior do corredor do Brasil, palavras harmoniosas invadem o coração do menino sertanejo, o trabalhador braçal.
-Você é o vencedor Ligeirinho! Não chore! Vejo que você já chorou demais em muitas noites. O homem não é super-homem, vejo nos seus olhos a simplicidade da realização de um desejo. Ninguém faz o que você fez nesta maratona! Este é o seu premio e você é o campeão.
Novamente as lágrimas respigam no asfalto, oportunidade em que enfermeiros e médicos dão pronto atendimento. Ainda cansado, Ligeirinho diz.
-Eu não sei como agradecer, eu não sei Franck! Saiba que sou o seu fã e assistir a tua vitória no Pan-2007 pela emissora da Radio Globo.
-Obrigado! Tenho certeza que este premio irá realizar algo mais importante do que esta maratona. Eu sei que Deus me enviou para esta cidade e receber este premio pra você, eu não sei explicar, mas outro não poderia ganhar esta maratona se não fosse você.
Ligeirinho abraça mais uma vez o campeão, a imprensa e as redes de televisão invadem o local.
Assim é o amor e a solidariedade caminhando sempre unidos,
Quando concebemos algo de importante é por amor e verdade,
Não importa a forma e o desejo de saciar os sonhos que vão se tornando realidade.