AMOR & CASAMENTO DE MACACOS

O casal LUNA, 22 anos, e BERTOLINO, um pouco mais velho, macacos muriquis, espécie ameaçada de extinção, nasceu e vivia em solidão na Mata do Luna, em Santa Rita do Ibitipoca, Minas Gerais. Então, primatologistas decidiram levar uma fêmea, a DONA FLOR das selvas, para morar lá e se relacionar com eles. Essa espécie animal costuma ter múltiplos parceiros e filhotes. Com cerca de dez anos, idade de jovem muriqui casadoura. Mas ESMERALDA não gostou daquele estilo de vida "come e dome" e foi se aventurar pela mata, cada vez mais longe. ----- Jeito diferente do de outros primatas da espécie - livre e independente, gostando de gente e inclusive montando em cavalos, peculir atração, e recusando poliamor. /EU - narrador - diria "feminista e empoderada"./ ----- Em 2017, Mata Atlântica plena de muricis (palavra tupi que significa "árvore pequena") amarelos... e do alto o casal viu a colega, entre apreensivos e espantados. ("Uma forasteira?") - a intrusa indiferente, sem lhes dar atenção. Não deu certo! Já meses, e nada de poliamor silvestre, inúteis os sons de alguns machos. Os outros nos galhos, comendo folhas de murici, jabutucabinhas-do-mato pimentinhas... ou dormiam. ----- Símbolo da Mata Atlântica, o muriqui-do-norte, de cerca de 1m de altura é o maior das Américas e também um dos 25 ameaçados de extinção. No caminho da febre amarela, verdadeira tragédia ambiental - morreram 15 dos 39 da reserva da Mata do Sossego, entre Simonésia e Manhuaçu, Mg: LUNA e BERTOLINO, reminiscentes de um bando de 12 macacos. Macacos vegetarianos, chamados de "hippies" pelo temperamento pacífico, sem hierarquia nos grupos e vida sexual animada, fêmeas com muitos parceiros, filhotes de vários pais. ----- ESMERALDA era uma muriqui solitária morando em Esmeralda de Ferros, a 270km de Ibitipoca, e seria a companheira ideal. Foi capturada e batizada ESMERALDA, avião só para ela, nova casa em janeiro de 2017, colocada numa trilha no início da Mata do Luna. ----- Na sociedade dos muriquis, são as fêmeas que migram em busca de companheiros e formam novos bandos; os machos passam a vida toda na floresta onde nasceram. Mata do Luna, cerca de 40 hectares, vida limitada - é uma ilha de floresta cercada por áreas parcialmente ocupadas com plantações e pastagens, do tamanho do Parque ibirapuera (SP) ou Jardim Botânico (RJ). ----- Os pesquisadores assistiram o folhetim ao vivo: acompanhar a tentativa de namoro a três. ESMERALDA escolheu outro destino e desapareceu. Elenco não se encaixava com o roteiro dos cientistas: o casal só pensava em comer/dormir e ela em se aventurar - mudou-se para a região das cachoeiras, fora dali, talvez por saudade da terra natal, repleta de quedas d'água. Dois maridos? Entre poliamor e independência, escolheu a segunda e se foi com a primavera, em 3 meses dada como perdida. Em janeiro de 2018, um ano após a vinda, chão agora coberto das flores brancas do ipê. Nova busca a outra companheira, missão contra o tempo e o vírus para salvar os muriquis, microcosmo da batalha contra a extinção na Mata Atlântica. ----- O conceito é que os macacos precisam de nós e nós não podemos ficar sem eles: não existe floresta sem os macacos. A febre amarela levou os primatas do bioma ao limite, pois ataca com ferocidade os bugios, também conhecidos como guaribas ou barbados, sauás, barbados-vermelhos, macacos-pregos (restam 250, espalhados em fragmentos entre Minas e Bahia) e algumas espécies de saguis. ----- Na Mata Atlântica, os primatas perderam 90% de seu habitat, assim vulneráveis à redução da diversidade genética e dificulta a busca por alimento. Colcha de 250 mil retalhos, a maioria com menos de 50 hectares, milhares de matas como a do Luna, a maioria desertos de bichos, cercados por gente.

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FONTES:

"Macaca independente" -- "Nosso amor não deu certo", artigo de ANA LÚCIA AZEVEDO - Rio, jornal O GLOBO, 10e11/2.18.

FIM