Costura logo isso, João!
- Anda, eu já não te falei pra você costurar logo isso, João?
- Calma, Vida, você é muito chata! Nós temos tempo. Depois eu costuro.
- Isso é o que você pensa. A dona Morte não tem hora pra chegar, e quando ela me levar embora quero ver o que você vai fazer.
- Fica de boa que essa dona Morte aí não vem tão cedo!
Alguém arromba a porta
- Olá, boa noite.
- Quem é você?
Pergunta a Vida
- Eu sou a dona Morte, e vim te levar comigo.
- O quê? Você não pode levar ela embora!
- Claro que posso, João, e vou.
- Mas, eu não sei o que fazer sem a Vida aqui. Não dá para continuar. Não sei onde enfiar as mãos.
- Isso já não é culpa minha. Acho que a Vida te alertou por muito tempo para que você costurasse seus bolsos não é?
- Sim, mas eu não achei que você viesse tão cedo.
- Me desculpe, mas eu não costumo avisar.
Agora, ou você finalmente costura os bolsos para enfiar as mãos e aprende a se adaptar sem a Vida do seu lado, ou fica com os braços soltos, vagando no ar sem direção.
- Vem cá, o que eu ganho costurando os bolsos?
- João, eu sempre vou vir, isso é certo, pra todo mundo, uma hora ou outra. Costurando os bolsos você tem segurança, conforto. Com as mãos nos bolsos você tem a firmeza pra continuar mesmo sabendo que um dia eu vou chegar.
E a Vida, que até então, ouvia tudo sem nada falar, acaba se despedindo
- Ouve a dona Morte, João, costura logo esses bolsos. Mesmo cruel, ela sabe o que diz.