05/06/2018

Me encontrei com rebeca numa escadaria da universidade, e ficamos conversando sobre todas as nossas possibilidades e impossibilidades, de uma forma amena e que eu achei bastante produtiva. De algum jeito, acho que conseguimos fingir um para o outro que não estávamos tão fodidos como na realidade estávamos. E no fim, foi como se eu tivesse tirado um grande peso das minhas costas, apesar do sentimento inexorável de perda que sobrou no final. O tempo é uma tragédia, e feito de desencontros. Muito mais do que de encontros.

Talvez Rebeca tenha guardado muita coisa dentro de si, e no fim eu nunca vou saber suas motivações reais. Mas a achei sincera o suficiente para que eu lhe levasse à sério, como uma pessoa boa, como ela parecia ser.

Apesar da presença constante dos mosquitos, nossa conversa correu preguiçosamente pela noite até que nos despedimos.

O fato é que eu nunca gostei de escadas. Muito menos de despedidas como aquela.

Talvez por isso eu tenha tomado o rumo do bar, em plena segunda feira.

Entrei calado, até que Roberto, o velho garçom agredido pelo tempo me perguntou, mesmo antes de dar boa noite.

- Vai beber o quê hoje, Rômulo?

- Não vou beber, só vim me sentar um pouco.

- Seus amigos estão lá dentro, pode pegar um copo no balcão. – Disse-me, sem se levantar da cadeira de plástico onde estava sentado, na entrada do boteco.

Segui até o interior e encontrei uma mesa cheia de amigos e colegas, cada qual com seu motivo para estar no bar naquela noite.

Cumprimentei à todos, e fui abraçado efusivamente por Mô e Jess. Duas amigas já de longa data. Ket também estava lá, com um de seus garotos. Mas diferentemente dos outros, eu percebia uma certa ternura e uma cumplicidade inquieta entre os dois. Como se fossem parceiros em algum crime ou segredo. Ele me cumprimentou, sem graça, e ela me deu um abraço distante. Sentei-me ao lado de Mô e Jess, que já tinham enchido um copo para mim.

Brindamos à nada, e bebi um gole sem muito gosto.

Fiquei ouvindo as conversas sobre suas vidas universitárias e eu senti falta de estar entusiasmado com algo daquela forma. Eu sentia falta de me sentir jovem como elas eram.

Ao mesmo tempo pensava na escadaria e em Rebeca , todas as suas preocupações, fugas e racionalizações. Talvez eu não fosse tão diferente dela quanto imaginava ser.

Abandonei esse pensamento quando percebi que alguém havia me perguntado algo na mesa.

- Você vai, Rômulo? – Mô repetiu a pergunta.

- Ahn? Pra onde?

- Pro Arraiagro, besta

- Quando vai ser?

- Quinta feira.

- Por quê não sexta?

-É tradição da agronomia.

- Ah sim. Acho que vou passar por lá.

- Vai, menino! Você tem algo melhor pra fazer?

Eu não tinha. Talvez tivesse coisas mais importantes para fazer. Mas eu não tinha a mínima vontade de fazê-las.

- Verdade. Eu vou então.

- Eu gosto assim, bebê. – Ela completou, e me deu um beijo no rosto.

Imaginei se Rebeca iria para aquela festa, e se quinta feira seria um dia melhor do que aquela segunda, de longas escadas

e bares semi vazios.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 05/06/2018
Código do texto: T6355804
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