Contraste (Final)

Naquele dia ela fazia sua ficha e percebeu que Jair estava conversando próximo à secretaria. Decidiu buscar os equipamentos mais próximos e se surpreendeu quando o moreno se aproximou e disse baixinho que ela havia esquecido a squeeze no outro lado do salão.

Renata corou e agradeceu. Mas ele foi até lá, apanhou a garrafa e a devolveu. Um toque nas mãos macias de Renata ele propositalmente provocou. A moça sentiu um calor diferente e agradeceu a gentileza.

Ele perguntou a que horas ela terminava o treino e ela sem pensar respondeu que em dez minutos estaria finalizando.

Até que ela passasse pela roleta não viu mais Jair e ao sair pela porta viu que o rapaz estava encostado no seu carro como que aguardando alguém.

- Ah, eu estava querendo conversar com você.

Sorrindo sem graça a moça arqueoou as sombrancelhas e respondeu abobalhada:

- Comigo?

- Bem, acho que só tem nós dois aqui.

Ela riu fazendo um gesto de quem se sentia envergonhada, mas Jair segurou no seu pulso e perguntou o porquê dela ter se matriculado no dia seguinte do primeiro encontro na oficina. Ademais ela morava no outro extremo da cidade.

Renata olhou para o chão e só conseguiu dizer:

- Não sei.

Jair tinha um sorriso lindo. Os dentes contrastavam na pele morena. Os cabelos quase não apareciam, pois usava um corte bem rente à cabeça e era possível somente ver um sombreado. Os músculos eram visíveis na camiseta branca e justa e a calça do uniforme ele havia trocado por um jeans apertado. Perfeito.

Ela ouviu atônita quando ele disse:

- Renata? Você vai me responder?

Ela disse novamente que não sabia e quando buscava nova desculpa, Jair a puxou contra o peito, e beijou-lhe a boca com paixão.

Renata respondeu o beijo e se deixou afundar nos braços fortes e tão diferentes dos braços do noivo. Eram aconchegantes e seu abraço tinha uma energia que até então ela nunca tinha experimentado.

- E Leninha?

Renata se referia à namorada. A balconista tinha dito que eram parceiros e sócios na academia.

Ele ficou sério. Olhou nos olhos de Renata e disse calmamente.

- Para que estragar esse momento?

Ela concluiu que o rapaz era acostumado a beijar as alunas da academia e se afastou abruptamente.

- Desculpe-me. Não devíamos ter feito isso.

Jair riu e disse num jeito meio moleque:

- Mas a senhorita gostou! Diga?

Renata abriu a bolsa, pegou as chaves e deu a volta para entrar no carro.

Jair se afastou do veículo. Passou a mão pelos cabelos, que eram somente uma penugem, e disse à Renata que gostaria de vê-la novamente.

Renata ligou o carro. Pensou no noivo, no beijo quente de Jair. Resolveu que perderia o dinheiro investido no plano anual e nunca mais voltaria naquela academia.

Sentiu como fora ingênua, caiu na armadilha mais antiga que existe e fora vítima da sua própria teimosia.

No ano seguinte, casou-se com o promotor e mudaram para o interior.

Cláudia Machado

28/5/18

Leia: Contraste (parte 1), Contraste (parte 2) e Contraste (Final)

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 28/05/2018
Reeditado em 27/11/2020
Código do texto: T6349248
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