A Verdade

Vago por miríades de reinos em busca da essência de todos os conhecimentos: a resposta suprema de todas as indagações que não seja concebida por meras tautologias, axiomas e silogismos e que transcenda os mais elevados pensamentos destes pobres mortais feitos de argila, muito além do que possa ser imaginado ou compreendido pela dialética, poesia e, até mesmo, filosofia.

E a cada lugar que destino-me a ir, encontro-me profundissimamente esperançoso de saciar o desejo de descobrir esse conhecimento primordial que dá sustentação a todos os outros conhecimentos – “a verdade”.

E agora, aproximo-me de um lugar chamado de Tessalônica, uma cidade portuária que deu nome a uma das irmãs de Alexandre, O grande. Uma cidade muito movimentada e que, no passado, foi palco de conflitos religiosos. Também, tomei conhecimento, através de uma fonte segura, de que na ilha do Monte Athos se produz o melhor vinho do porto.

Adentro à cidade e deparo-me com casas, edifícios e templos construídos em pedra calcário, tudo muito bem arranjados, simetricamente produzidos para proporcionar harmonia e beleza.

Deparo-me com um local muito bem atraente e na faixada principal, encontra-se um arco de pedras calcarias muito bem polidas e jardins muito bem floridos de ambos os lados e no centro uma placa com a palavra “taberna” – era tudo que eu precisava: o néctar dos deuses para saciar a minha sede e inspirar os meus pensamentos.

Sento-me a mesa e ganho aos olhos a belíssima vista da praia que tem ao fundo a ilha do Monte Athos e, nesse exato momento...

– Escolheste tu, o melhor vinho da cidade! exclamou um homem no balcão.

Olhei-o e o mesmo me perguntou:

– Como soubeste que este é o melhor vinho dentre dos melhores da cidade? Pois, os estrangeiros que aqui veem, nunca o pedem. perguntou em tom exaltado.

– Honrado nativo de Tessalônica, foi este vinho que pedi ao "servitóros¹", o vinho do MONTE ATHOS – Vindo do Porto. Respondi em tom eloquente.

– Sou de muito longe, mas antes de vir, já sabia, por intermédio de um nativo, que aqui se produzia, não o vinho, mas o néctar dos deuses. Respondi entusiasmado.

Nesse exato momento, o estranho se aproximou.

– Estou honrado com suas palavras! Exclamou o estranho, abrindo suas mãos ao ar.

– Permita-me se apresentar, sou Dários, o dono da taberna. Exclamou com o tom de simplicidade.

– Sou Ágapos de Rhodes, descendente de Cerés. Repliquei no mesmo tom.

– Cerés de Lindos, O Magnífico! o construtor do Colosso do deus Hélios? - Perguntou, expressando admiração.

– Exatamente, Dários. Tivemos que erguê-lo em homenagem ao deus Hélios - ele que nos dá forças e nos protege, por isso, tivemos a vitória contra os macedônios garantida.

– Certamente meu caro! Façamos um brinde à vitória e ao deus Hélios. Se expressou, enaltecendo a voz.

– E a Dionísio que nasceu duas vezes e é filho de uma mortal, sem ele, não degustaríamos esta divina bebida que nos evoca à sabedoria. Expressei-me no mesmo tom.

– Certamente! E não foi em vão que Plínio, o velho, afirmou: “in vino veritas, in aqua sanitas² ”. Dários complementou as minhas palavras.

E esta foi a primeira vez. Nunca, em nenhum lugar que já estive, alguém havia pronunciado tal palavra: verdade.

– Certamente que não, Dários. Pois, assim como o vinho, a verdade, em essência, só pode ser uma palavra dos deuses. Afirmei em tom eloquente.

– Eis a maior dúvida da humanidade, saber o que é exatamente a verdade. Indagou Dários, franzindo o cenho.

– Seria esta indagação suprema passível de resposta, Dários? Perguntei admirado.

– Esta é a pergunta absoluta meu caro, Ágapos. Mas incrivelmente, não há respostas para ela. Afirmou, Dários, completamente enaltecido.

– Dialéticos, poéticos e filósofos, todos que já tenham tratados da verdade, nenhum deles conseguiu defini-la, apenas, contemplaram-na e enalteceram-na. Afirmou Dários, em tom eloquente.

– Esta é a pergunta que só os deuses têm a resposta. O que é a verdade? quem faz tal pergunta, denota absoluta ignorância e quem a responde, denota absoluta arrogância. Então, a única resposta para tal pergunta é o silêncio. Dários conclui com os olhos repletos em lágrimas.

José Carlos Pereia de Farias

Autor

1- Servitóros - Garçom em grego.

2- “in vino veritas, in aqua sanitas ”.

“no vinho está a verdade, na água está a saúde”.