NO BADALAR DAS 19

Naquela tarde tudo parecia estar diferente. Jack havia acabado de receber um e-mail do departamento de História da UNICENTRO o qual mantinha um link. O determinado endereço eletrônico mantinha lista de todos os projetos submetidos na seleção do mestrado 2018. Uma satisfação saber que o seu texto havia sido aprovado junto à vários outros concorrentes. Para infelicidade de alguns, havia também a lista dos que não conseguiram atingir resultado satisfatório para prosseguir na concorrência. Havia mais algumas barreiras a serem vencidas pelos participantes que foram aprovados em seu primeiro teste de resistência. Por tarde toda Jack se perguntou do por que ele? Por que agora? Quatro anos havia se passado até conseguir escrever algo minimamente adequado aos padrões da universidade brasileira. Qual seria mesmo o seu maior sonho? Sabia que sua felicidade não estaria lhe esperando logo ao fim desta nova etapa incerta por ora. Para Jack a preciosidade residia nas coisas simples da vida. No abraço sincero de um amigo. No sorriso daqueles que ama. Na poesia que rege os olhos e ouvidos no amanhecer. Por que Jack estava se matando por algo que não valia a pena. Todos ao seu redor lhe conferiam a insignia do bêbado, cozido, pinguço, tranqueira. Isto porque Jack não via a necessidade de se esconder por de trás dos muros da boa moral e dos bons costumes. Sua liberdade interior lhe conferia também a sua maior fraqueza. Jack sempre se perguntou do por que não suportar as amarras de um relacionamento sadio? Jack poderia buscar por uma namorada que lhe colocasse nos eixos e seguir uma vida normal, casar, comprar um carro, construir sua casa e ter filhos. O sonho do século era esse modelo de vida medíocre e bastante pobre aos seus olhos. Todos pareciam conceber que Jack não poderia voltar amar uma pessoa. Jack pensou que poderia amar suas motos, mas seus motores mesmo quando aquecidos não conferem calor humano. Jack passou a se perguntar do porque não arrumar um novo relacionamento a moda antiga? Jack percebeu que não era capaz de amar as pessoas. Jack amava outra coisa, ele morria de amores pela sensação de perda quando do termino de qualquer relacionamento. Jack estava viciado por este sentimento que lhe conferia um sentido na vida. A única droga que lhe abastecia era o sentimento de perda, pois ele poderia sentir no peito que era capaz de sentir algo. A dor era viciante. Mas como toda droga em excesso poderia lhe causar uma overdose. Jack portanto se distraia com amotinados estudos que lhe conferiam a distração necessária para que não lhe permitisse buscar a dor que o saciava a vida.

--- meu projeto de mestrado foi aprovado.

--- sério? Caramba que legal e agora o que irá fazer?

--- não sei.

--- como não sabe?

--- deveria estudar para prova escrita. Mas sinto dentro de mim que tenho pouco tempo, não deveria deixar que ele escoe para o ralo com estas bobagens.

--- mas cara, mestrado não é bobagem mano. Se você for aprovado como aluno regular poderá ter melhor salário no futuro.

--- e quem disse que sua felicidade está no dinheiro que ganha?

--- sei que dinheiro não é sinônimo de felicidade, mas ajuda comprar várias coisas que te alegra.

--- tudo que me alegra é tão caro que nem mesmo o dinheiro do mundo todo pode comprar meu caro.

--- nossa isso foi profundo.

--- não era pra ser. é que eu me divirto correndo na chuva, pulando nas possas de lama, nadando no rio, gargalhando com os amigos, analisando os patos... nunca vi ninguém comprar por essas poesias ao ar livre... estão em todos os cantos e pontos do mundo ... é só saber ler ...

--- tá, então não vai fazer o mestrado? por que está concorrendo então?

--- estou concorrendo para provar aos outros que eu consigo. Mas no fundo eu sei que eu não preciso disso. Portanto a crise é o que eu estou fazendo aqui?

--- mano você é muito doido. Se passar no mestrado não lhe agrada o que espera fazer?

--- esse é o problema Tobias, o mundo sempre espera uma resposta. E eu não sou obrigado a responder nada.

--- tá bom, vamos mudar de assunto. O que tem feito de bom?

--- nada de mais, apenas conversando com pessoas desinteressantes.

--- porra mano que isso?

--- é o mundo lhe cobrando sentido. É difícil oferecer algo que não se possa comprar hoje em dia. Aproposito, já são 19:00 horas tenho um compromisso sério para resolver.

--- sério?! o que houve?

--- estou trabalhando em um novo projeto.

--- o que seria?

--- estou trabalhando gole na esquina com a 19.

Jack Solares
Enviado por Jack Solares em 14/05/2018
Reeditado em 14/05/2019
Código do texto: T6336426
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