É Com Esta
Dona Mercedes sabia das coisas e das pessoas, principalmente daquilo e daqueles que faziam parte do seu mundinho.
Certo dia, seu único filho, Fernando, então com dezesseis anos, levou a tal namorada Suzana para ela conhecer. Estava na cara que a menina era apenas a primeira de muitas que teria que enfrentar, por isso nem deu muita bola. Fernando já tinha uma paixão: o seu Palmeiras. Mercedes não dava dois meses para esse namoro desandar por causa do fanatismo do filho pelo time.
Pois bem, nem sempre a mãe acerta. Em menos de dois meses havia mais uma escova de dente no banheiro do Fernando e que lá se fez morada até a maioridade dos dois.
A mãe sentiu o quanto seu filho estava apaixonado. Não era apenas o olhar, mas aquele chamego todo com a moça. Se Mercedes tinha intenções de ver o seu Nando formado e bem empregado, estava mais do que na hora de dar fim a essa história.
Uma noite qualquer no Bar do Elias onde comemoravam mais uma vitória do Palestra, a mãe aproveitou a ida da Suzana ao toilete e abriu o jogo: "Nando, não será com ela."
"Como assim, mãe?"
"Escreva o quê lhe digo: a moça que será sua esposa não é a Suzana."
"E quem falou em casar, mãe? O melhor da vida vai começar, oras!"
Como tem homem cego nesse mundo, pensou Mercedes.
E assim, o namoro durou mais quatro meses até que numa balada de sexta-feira, Suzana terminou tudo. No sábado não estava apenas numa outra, mas nos braços de um tal de Wesley.
Como aquele filho chorou. E não foi pouco não.
Mais uma vez, a mãe repetiu ao filho que 'aquelazinha' não era a mulher que Deus havia escolhido para ele.
E Fernando chorou madrugadas a dentro até conhecer Bete, dona de uma conversa articulada que quase convenceu Dona Mercedes que ela era perfeita para seu único filho. Mas essa mãe conheceu a verdade sobre a perfeitinha, porém complicada Bete.
Durante a ceia natalina, enquanto a moça se ocupava com conversinhas no Whatsapp, a mãe falou bem baixo: "Essa Bete não me engana não."
Mais uma vez, o Fernando não entendeu e respondeu com certa indignação:
"Mãe, gosto demais da Bete. Ela é tudo que quero, tudo que preciso."
Dona Mercedes apenas respondeu: "O tempo dirá, meu filho. Pode deixar que o tempo dirá."
Antes daquele verão terminar, o coração da moça balançou por um surfista e lá se foi a Bete num piscar dos olhos, assim como chegou.
Antes da choradeira começar, a mãe logo foi sugerindo que curtisse a solteirice. Como todo bom filho, Fernando seguiu o conselho materno ao pé da letra.
Começou por Paris e deu aquele rolê pela França. Conheceu mulheres, muitas mulheres, até mesmo brasileiras que transitavam pelas capitais européias fazendo intercâmbio. Fernando descobriu o quanto o mundo era bom para quem viajava solo sem lenço, mas com passaporte devidamente carimbado.
Os caminhos de Fernando e Luzia se cruzaram ao sentarem lado a lado no vôo de volta ao Brasil. Desde então nunca se largaram.
No início, Dona Mercedes não viu nada que chamasse sua atenção para essa moça, mas Fernando já estava de quatro e crente que ela seria sua esposa, a mãe dos seus filhos. Por isso ela acabou revelando: "Essa é a mulher da sua vida, meu filho. Sinto que serão felizes juntos."
E assim aconteceu. Fernando e Luzia se casaram, tiveram três meninos e uma menina.
Dona Mercedes preferiu continuar no seu cantinho, mas pediu que o casal se mudasse para pertinho, assim participariam da vida da matriarca.
Um dia, enquanto conversavam, Fernando perguntou à mãe como é que ela sabia que a Luzia seria sua parceira.
Dona Mercedes respondeu: "Pelas mãos, meu filho. Luzia tem belas mãos ... um pouco calejadas, mas são as mãos de mulher trabalhadeira. Mãos de quem não tem medo de arregaçar as mangas e ir à luta. Mas não diga nada para Luzia sobre isso, meu filho. Ela vai sentir constrangida se souber que a julguei pelas mãos. Sabe como essa mulherada é vaidosa. Promete Nando?" Como não atender um pedido da própria mãe.
Dona Mercedes, por mais que rezasse seus terços toda sexta-feira, veio a falecer.
Luzia chorou muito, até mais do que o esperado e quando o caixão foi fechado, ela desabou. Fernando procurou confortá-la sussurrando ao pé do ouvido, "Mamãe me contou que você seria minha esposa por causa das suas mãos, Luzia. Ela disse que era mulher trabalhadeira, forte e pronta para ir a luta." De repente, Luzia começou a rir. Ela não se conteve, nem mesmo na última despedida.
Com um sorriso largo no rosto, a nora da falecida revelou, "Toda vez que apresentava uma namorada sua mãe dava jeito de botar a menina pra correr, Fê. Nenhuma mulher era boa o suficiente para o filho da Dona Mercedes."
A risada gostosa do Fernando se juntou à da esposa atraindo olhares, caras e bocas que ficaram sem entender nada.
Ainda rindo Fernando questionou, "Então, ela mentiu?"
"Na verdade, ela segurou minhas mãos e disse que eu precisaria usá-las e muitooooo para conquistar o filho. Aí ela me propôs um pacto e aceitei."
Se acabando de rir com aquela revelação da traquinagem da mãe, Fernando perguntou, " Poderia me dizer que pacto foi esse, Luzia?"
Sua esposa respondeu, "Posso não, amor. Só posso dizer que me cedi às exigências dela porque eu sabia que você valia a pena. Enfim, valeu muito a pena. Não acha?"
"Que danada essa minha mãe", pensou Fernando ao soltar uma bela gargalhada.
Pois é, Mãe sempre sabe das coisas. Ou quer pagar para ver?
Feliz Dia das Mães!
Dona Mercedes sabia das coisas e das pessoas, principalmente daquilo e daqueles que faziam parte do seu mundinho.
Certo dia, seu único filho, Fernando, então com dezesseis anos, levou a tal namorada Suzana para ela conhecer. Estava na cara que a menina era apenas a primeira de muitas que teria que enfrentar, por isso nem deu muita bola. Fernando já tinha uma paixão: o seu Palmeiras. Mercedes não dava dois meses para esse namoro desandar por causa do fanatismo do filho pelo time.
Pois bem, nem sempre a mãe acerta. Em menos de dois meses havia mais uma escova de dente no banheiro do Fernando e que lá se fez morada até a maioridade dos dois.
A mãe sentiu o quanto seu filho estava apaixonado. Não era apenas o olhar, mas aquele chamego todo com a moça. Se Mercedes tinha intenções de ver o seu Nando formado e bem empregado, estava mais do que na hora de dar fim a essa história.
Uma noite qualquer no Bar do Elias onde comemoravam mais uma vitória do Palestra, a mãe aproveitou a ida da Suzana ao toilete e abriu o jogo: "Nando, não será com ela."
"Como assim, mãe?"
"Escreva o quê lhe digo: a moça que será sua esposa não é a Suzana."
"E quem falou em casar, mãe? O melhor da vida vai começar, oras!"
Como tem homem cego nesse mundo, pensou Mercedes.
E assim, o namoro durou mais quatro meses até que numa balada de sexta-feira, Suzana terminou tudo. No sábado não estava apenas numa outra, mas nos braços de um tal de Wesley.
Como aquele filho chorou. E não foi pouco não.
Mais uma vez, a mãe repetiu ao filho que 'aquelazinha' não era a mulher que Deus havia escolhido para ele.
E Fernando chorou madrugadas a dentro até conhecer Bete, dona de uma conversa articulada que quase convenceu Dona Mercedes que ela era perfeita para seu único filho. Mas essa mãe conheceu a verdade sobre a perfeitinha, porém complicada Bete.
Durante a ceia natalina, enquanto a moça se ocupava com conversinhas no Whatsapp, a mãe falou bem baixo: "Essa Bete não me engana não."
Mais uma vez, o Fernando não entendeu e respondeu com certa indignação:
"Mãe, gosto demais da Bete. Ela é tudo que quero, tudo que preciso."
Dona Mercedes apenas respondeu: "O tempo dirá, meu filho. Pode deixar que o tempo dirá."
Antes daquele verão terminar, o coração da moça balançou por um surfista e lá se foi a Bete num piscar dos olhos, assim como chegou.
Antes da choradeira começar, a mãe logo foi sugerindo que curtisse a solteirice. Como todo bom filho, Fernando seguiu o conselho materno ao pé da letra.
Começou por Paris e deu aquele rolê pela França. Conheceu mulheres, muitas mulheres, até mesmo brasileiras que transitavam pelas capitais européias fazendo intercâmbio. Fernando descobriu o quanto o mundo era bom para quem viajava solo sem lenço, mas com passaporte devidamente carimbado.
Os caminhos de Fernando e Luzia se cruzaram ao sentarem lado a lado no vôo de volta ao Brasil. Desde então nunca se largaram.
No início, Dona Mercedes não viu nada que chamasse sua atenção para essa moça, mas Fernando já estava de quatro e crente que ela seria sua esposa, a mãe dos seus filhos. Por isso ela acabou revelando: "Essa é a mulher da sua vida, meu filho. Sinto que serão felizes juntos."
E assim aconteceu. Fernando e Luzia se casaram, tiveram três meninos e uma menina.
Dona Mercedes preferiu continuar no seu cantinho, mas pediu que o casal se mudasse para pertinho, assim participariam da vida da matriarca.
Um dia, enquanto conversavam, Fernando perguntou à mãe como é que ela sabia que a Luzia seria sua parceira.
Dona Mercedes respondeu: "Pelas mãos, meu filho. Luzia tem belas mãos ... um pouco calejadas, mas são as mãos de mulher trabalhadeira. Mãos de quem não tem medo de arregaçar as mangas e ir à luta. Mas não diga nada para Luzia sobre isso, meu filho. Ela vai sentir constrangida se souber que a julguei pelas mãos. Sabe como essa mulherada é vaidosa. Promete Nando?" Como não atender um pedido da própria mãe.
Dona Mercedes, por mais que rezasse seus terços toda sexta-feira, veio a falecer.
Luzia chorou muito, até mais do que o esperado e quando o caixão foi fechado, ela desabou. Fernando procurou confortá-la sussurrando ao pé do ouvido, "Mamãe me contou que você seria minha esposa por causa das suas mãos, Luzia. Ela disse que era mulher trabalhadeira, forte e pronta para ir a luta." De repente, Luzia começou a rir. Ela não se conteve, nem mesmo na última despedida.
Com um sorriso largo no rosto, a nora da falecida revelou, "Toda vez que apresentava uma namorada sua mãe dava jeito de botar a menina pra correr, Fê. Nenhuma mulher era boa o suficiente para o filho da Dona Mercedes."
A risada gostosa do Fernando se juntou à da esposa atraindo olhares, caras e bocas que ficaram sem entender nada.
Ainda rindo Fernando questionou, "Então, ela mentiu?"
"Na verdade, ela segurou minhas mãos e disse que eu precisaria usá-las e muitooooo para conquistar o filho. Aí ela me propôs um pacto e aceitei."
Se acabando de rir com aquela revelação da traquinagem da mãe, Fernando perguntou, " Poderia me dizer que pacto foi esse, Luzia?"
Sua esposa respondeu, "Posso não, amor. Só posso dizer que me cedi às exigências dela porque eu sabia que você valia a pena. Enfim, valeu muito a pena. Não acha?"
"Que danada essa minha mãe", pensou Fernando ao soltar uma bela gargalhada.
Pois é, Mãe sempre sabe das coisas. Ou quer pagar para ver?
Feliz Dia das Mães!