Continuando a história
Ah! Como é bom escrever. Quando eu crescer acho que... não , espere aí, acho não, vou querer ser escritor! Numa madrugada dessas que a insolente insônia teima em aparecer (hora que as inspirações jorram incrivelmente, pelo menos comigo acontece) eu pensava no que uma amiga havia me proposto, me procurou dizendo:
--- Lourenço, a história de sua mãe tem que ser revivida, eu sei que você já começou escrever sobre ela, nossa! A dona Maria Vitória era incrível! o que ela fez, eu a conheci muito bem, fui uma de suas alunas de catecismo, ela tem história, meu amigo, ela tem história!...
Naquele instante, naquela madrugada à dentro, minha mente começa a trabalhar, a história deveria continuar. A lembrança aparecia, quando um dia já aposentado, afastado da gráfica que funcionava um jornal da cidade. Estava ávido para escrever, ainda não participava dos sites, inclusive deste maravilhoso Recanto das Letras.
Algo acontece, só podia ser mágica, vi minha mãe sentada em sua varanda, sua casa ficava a poucos metros da minha. Vi aquela senhora sentada, compenetrada, dedilhando o seu rosário, se não, se não me falha a memória ela começava a passar dos seus 90 anos. O tempo ia retrocedendo na minha mente, capacidade incrível que o nosso cérebro processa, em alguns segundos parecia uma máquina de tempo, lembrei de como ela se tornou uma professora de catecismo nata, mal estudou dois anos na escola e depois de adulta se aprofundou no aprendizado da catequese, capacidade de liderança reconhecida por todos que a conheceram, é mesmo quantas histórias! Então eu começo:
--- E aí, mãe, vi a senhora sentada e vim pra batermos um papinho.
--- Pois é, até que apareceu, não é? Também você mora tão longe!,,, (eu desconfiava que ela estava tirando sarro de mim)
--- Mãe, vamos ao que interessa: eu pensei em escrever a sua biografia. Ouvindo isso, vi que seus olhos se iluminaram, ela respondeu:
--- Ah! Lourenço, eu sempre pensei isso, você sabe que na minha idade não consigo mais escrever, então pensei que você seria o mais indicado, ia mesmo te pedir para você escrever não que é a minha história! Mas coisas que dá gosto de ser lembrados, coisas relacionadas com o nosso Deus.
--- Ah! A senhora é que ia me pedir não é? (ela tinha que demonstrar que era a líder) Ela continua:
--- Então, meu filho, não sou contra outras religiões, mas sou fiel à minha, aliás e você? Parece que anda meio afastado da igreja católica, sei que casou e minha nora é evangélica, eu a admiro tanto! Se não segue a sua religião então ficaria mais tranquila se pelo menos seguisse a religião dela e tem mais...
Parecia que o tempo deu uma parada naquele instante, para que em segundos eu saber o continuar do sermão:
-- Quanto tempo que não vai na missa
-- Desde quando não confessa. Olha, meu filho, praticar tudo isso uma vez por ano pelo menos é o dever de todo católico...
--- Espere aí, mãe, vamos deixar esse puxão de orelhas pra lá, vamos começar a sua biografia, sei de todos esses seus ensinamentos, dona Maria Vitória! Sei que ter fé, acreditar em algo, depende exclusivamente de cada ser humano, mas se não tivessem pessoas carismáticas, pessoas com fé inabaláveis, assim como a senhora e minha esposa, haveria quantidades imensas de ateus por esse mundão à fora... eu acho que consegui com isso amansar a “fera” porque logo ela me falou:
--- Então vamos começar essa biografia, vou te contar desde a minha remota infância.
Ah! Só pra frisar bem, em plena madrugada ainda vi que dali em diante deveria continuar a escrever as histórias de minha mãe, tão bem narradas de sua própria boca, ela era uma autêntica contadora de histórias, mas o arrependimento me bateu, pois aproveitei pouco a sua lucidez. Ela faleceu em 2010, mas suas histórias ficaram, muitas dessas histórias eu já publiquei em alguns sites e termino novamente dizendo:
--- Deus, nos teus mistérios insondáveis, minha mãe mergulhava nas histórias, ensinava seus caminhos.
Por favor ela tem que estar no seu Céu, usufruindo as felicidades sem fim.
HOMENAGEIO ENTÃO TODAS AS MÃES, CRIATURAS QUE FOI DADO O DOM DE REALMENTE AMAR...