O HOMEM QUE VIVEU MIL PASSADOS E NENHUM FUTURO - 3

Jack não estava morto, mas isso não o enquadrava no grande grupo dos vivos. Por enquanto Jack não havia notado, mas ele não se safou da morte. A pior maneira de morrer e permanecer vivo. Da-li por diante Jack a carregava com sigo, sem poder desfrutar do enorme prazer do descanso eterno. Se até Deus descansou no oitavo dia, após ter construído a terra e todos ou outros astros, quem era Jack para ousar suportar o que é eterno por configuração astronômica. Sim. Jack havia sido enfeitiçado com um poder extraordinário. Ele poderia descrever a história que ele mesmo gostaria de viver antes mesmo de acontecer. Não era uma espécie de charlatanismo. Ele não previa o futuro, pois a realidade do tempo ainda não havia transcorrido em sua forma congênita do existir. Ele havia sido amaldiçoado com a escrita da história. Todas as vezes que escrevesse em seu caderno ou diário sobre qualquer coisa, aconteceria no determinado tempo que o universo considerasse propício. Jack não saberia dizer com exatidão quando aconteceria o que havia escrito, pois este aspecto seria uma dupla visão. Seria como prever sua previsão não prevista, mas indicada no curso da existência. Porém, Jack jamais poderia descrever o que já havia acontecido, portanto ele mantinha sobre seus ombros um presente exigente. Algo com qual era preciso trabalhar com a criatividade. Morrer já não o amedrontava mais. O problema de agora em diante seria como manter-se para todo sempre sem desperdiçar seu tempo com um passado proibido à ele. Viver o passado já não era mais permitido. Jack se perguntava afogado por todo aquele volume de existência.

--- Mas de que futuro falamos quando somos privados do passado? --- Sem seu passado não adiantaria estar vivo. Seus amigos permaneceram no passado. Todas as suas namoradas permaneceram no passado. Sua identidade permaneceu no passado. Jack se viu sozinho. O que ele havia se tornado? De que adianta fazer parte de algo sempre novo, ou pior, se ver hipnotizado pelo esteriótipo da novidade. Se o seu passado lhe desagradava seu futuro nada tinha a oferecer. Jack percebeu que não mais existia futuro pois lhe haviam privado o passado. Ele havia sido amaldiçoado com o presenta da escrita eterna.