O que de mim?

Ouço o som do mar

Teu silêncio vem me apavorar

Quantos medos precisamos enfrentar

Até que a voz que nos atormenta

Decida se calar?

Não me deixo levar pelo vento,

Mas balbucio junto as ondas

E finco minhas raízes nas águas que

O mar carrega,

Fui.

O que há de mim em mim? Até quando será preciso ter medo de ter medo? Repousei sobre as águas salgadas que escorriam por minha face, mas o vento as secavam sempre que se faziam presente, fui chuva. Emergi do mar, nuvens me filtram, por teu corpo eu realizo sem sentir o que sou ou fui.

Quantas vezes me deixaste ir, ir sem que tu estiveste no ponto de chegada. Meus olhos preenchidos por silêncios nossos e vontades minhas. Precisar de alguém não é tão preciso quanto parece, mas agora, o vazio que sempre fui desmancha os sorrisos que foram construídos em momentos oportunos. Há como voltar a mim? Ser um desconhecido para si mesmo é ter consciência de que os vazios um dia serão preenchidos.

Quando?

De grão em grão, fui reconstruindo um ser que nunca houve, fui para além de mim, porque sendo flor, a habilidade com espinhos atormentava o meu eu que nunca houve.

Minhas verdades em uma caixa de vidro, caiu.

Quem há de reconstruir o que nunca existira? De aflição em aflição, vou sanando as feridas, permanecendo, pois, as cicatrizes. Cicatrizes de feridas que não sangraram, cicatrizes de um ser que se dissolveu no tempo, que por muito tempo foi dois que o destino fez um que agora segue sem rumo, sorrisos ou vontades. Até os vorazes desejos de um dia ser, se perdeu no ontem que é hoje ainda.

Num caminho sem fim, vago vazio.

Em dores sem início,

Percebo os fins.

O fim de mim que não houve. Dos nós que em outrora desatamos. Meus sorrisos teus e tuas vontades minhas. O nós nunca se solidificou de fato. Sempre fomos líquidos demais para entender o que nunca houve, mas que um dia há de haver. O coração ainda pulsa... As sensações ainda estão a flor da pele e ouvir teu nome, desistir, ir embora de um lugar no qual nunca estive. Em dias triste chovo. Nos alegres reluzo, mas me entrego ao profano fim, ainda que não tenha um fim profano.

Os sins, os nãos, nós.

Nós em abismos que nós mesmos cavamos. O sol brilha mais uma vez, outra vez decidimos nos recompor de dores que são só nossas. As feridas acesas que nos tornam vivos. Estamos presos em cadeias nossas que jamais serão abertas de fatos.

Mas haverá de chegar novamente o sol.

Gilson Azevedo
Enviado por Gilson Azevedo em 04/05/2018
Reeditado em 05/05/2018
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