O HOMEM QUE VIVEU MIL PASSADOS E NENHUM FUTURO - 1
Seria possível viver o passado? Ou seria apenas uma conjugação verbal? Jack estava preso a suas memórias. Ele pensava a todo momento não conseguir mais seguir em frente. Esquecer por um minuto seu passado, suas memórias, suas lembranças era para ele o caus. Sua cabeças funcionava como disco riscado. As melhores faixas do seu disco tocavam uma vida tranquila até determinado momento. Mas uma obstrução saliente o fazia retornar para um início do qual se tornou escravo de si mesmo. Em determinada altura de sua vida tudo desmoronava e parecia regredir ao ponto de início outra vez. Era como queimar a largada. Por inúmeros momentos de sua trajetória se viu cometendo as mesmas infrações os mesmo erros. E por quê? Viver repetindo-se como se fosse um disco riscado. Na maioria das vezes desmanchava uma amizade para construir outra. Substituía sua casa por outra. Trocava de emprego como se estivesse caminhando de bar em bar em plena segunda à noite. E por quê? Jack era o encontro em desacordo. Jack cansou de repetir isso aos quatro ventos. Ninguém o compreendia. Ninguém o escutava. Jack estava prestes a cometer o seu maior erro. Foi quando tudo aconteceu.
--- espere aí amigo, eu te ajudo --- menciona vizinho do fim da rua levantando a motocicleta que o prendia contra o chão com o peso de dez carros. O vizinho conhecia a rotina boêmia de Jack, mesmo não o conhecendo com mais intimidade. O senhor levanta a moto que o sufoca contra o chão, quase lhe afogando em uma dor insuportável.
--- oh, muito obrigado. Eu exagerei desta vez --- Jack tenta se levantar, cambaleia para um lado depois para o outro, retoma o equilíbrio ainda dançando com as pernas como se não fosse possível manter-se em pé por muito mais tempo. Escora-se com as mãos na casa ao lado e encaminha trajeto até sua porta nos fundos.
--- pronto, está em casa agora, descanse bem filho, amanhã lhe cobro ajuda prestada --- o homem desaparece na noite como se adentrasse na névoa sobre o rio ali perto. Jack imaginou ter visto a fisionomia de seu vizinho, mas no outro dia sua memória parecia esfacelada como uma colcha de retalhos completamente descosturada. Aos poucos a amnésia alcoólica o prepara, reordenando a sucessão dos fleches de acordo com o acontecido. Resta-lhe apenas acreditar em seu passado, porque para ele não há nenhum futuro.