1042-PESADELO DE CARNAVAL -
A cada ano o carnaval em Libras assumia mais importância e era mais festejado. Tornara-se muito mais importante do que o próprio futebol, esporte que as autoridades daquele importante país tropical usavam como meio de manter o povo distraído e longe dos problemas reais, que eram a miséria, o analfabetismo, a falta de segurança, a falta de assistência para a saúde e o desemprego de uma imensa parcela da população.
O carnaval também era uma forma de dar “diversão” ao povo, como nos tempos de Roma, diferenciado que em Libras não havia o pão, a fim de completar a ilusão de que tudo ia bem no governo.
Nos tempos recentes, ou seja, final da década de 2030, a violência estourou nos campos de futebol e nas ruas carnavalescas.
A organização de “torcidas organizadas”, patrocinadas pelos times, chegou ao ápice da vibração e da selvageria, levando os torcedores a manifestarem nas ruas uma violência que não podia ser exposta dentro dos estádios.
Da mesma forma os desfiles e os blocos de carnaval passaram a ser dominados por gangues. Por isso cada bloco de milhares de pessoas tinha seu percurso determinado pela policia, que mantinha, então, uma frouxa vigilância nos locais públicos em que os foliões “brincavam”.
Começaram haver “infiltrações”, isto é, pequenos blocos ou foliões isolados de uma grei entravam nos blocos inimigos, a fim de começarem a bagunça e instaurar a confusão.
No bloco no qual eu participava, “União do Guariróba” (nome do nosso bairro) tivemos a ideia de organizar nossa própria segurança particular. Reunimos os trinta homens mais parrudos, que fiavam espalhado entre a multidão, examinando e notando qualquer coisa diferente, estranha, no meio de nossa gente, para entrarmos a fim de verificar se evitar confusão.
Era, como disse, um grupo secreto que usava como disfarce uma fantasia cor de rosa. Logo de inicio, fomos apelidados de “Os Rosinhas”. Bem treinados, nossa primeira abordagem era com mensagem de “CALMA, PESSOAL!”, “Vamos brincar sem brigar” e outras assim. Mas quando os foliões desordeiros não ouviam os conselhos, entravam em cena “argumentos” mais fortes: OS ROSINHAS passavam ao uso de punhos, golpes de boxe, de capoeira e outras lutas aprendidas com a finalidade apaziguar.
Pois foi num desses entreveros que entrei, com dois outros ROSINHAS, em um bafafá criado por elementos que não eram do bloco.
Eram uns cinco crioulos bem reforçados, com braços e pernas de gente treinada para fazer estragos em brigas e confusões (sabia que há academias “especializadas” neste negócio?).
E lá entramos os três contra os cinco. Foi um massacre. Dois me pegaram num canto antes mesmo que eu sacasse do cano de chumbo escondido na minha cintura. Eu dava pontapés em todas as direções, estava caído, e já não via mais nada. Estava perdido.
Foi então que minha esposa me agitou, falando alto:
— Para de me dar pontapés!
Acordei aliviado.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 16 de fevereiro de 2018.
Conto # 1042 da Série 1.OOO HISTÓRIAS.