A MOÇA DA VITRINE

Podia até ser arquiteta, mas era na vitrine que ela se via. Dava um toque, um requinte e todo um cuidado para que do vidro transparente aqueles que ali passassem pudessem se encantar com a magia do belo cenário. Se fosse verão tiravam-se as roupas, se fosse inverno se aqueciam, não somente os manequins, mas também o coração gelado do solitário que ali se socorria.

Entre uma estação e outra a vitrine sempre mais bonita e alegre. Fazia questão de pôr as folhas do outono, o colorido das flores, o brilho do carnaval, o vermelho dos namorados e o branco das noivas encantadas a procura de seu príncipe. Tudo que era belo não podia ficar guardado. Era na vitrine que tinha que ser mostrado.

Para ela nem importava se a compra fosse realizada. Seu contentamento era simplesmente perceber que os olhares estavam voltados para o que ela expunha de melhor, pois, afinal, pensava ela: se se interessavam pelo o que de bom tem na vitrine, de certa forma se interessavam também por ela.

Fazia daquela vitrine a sua vida, mesmo que por vezes sentisse um manequim, frio, quieto e parado, mas jamais desistia de deixar aquele cenário o mais perfeito, mostrando aos outros o que se tinha de melhor e de mais bonito, até que um dia um cliente entrou na loja, chamou-a de princesa e a carregou em seus braços.

Paulo Roberto Fernandes
Enviado por Paulo Roberto Fernandes em 18/04/2018
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