SUA MORTE
Aos 27 anos de idade ele era apenas um garoto. Perdido em todos os aspectos que compõem a vida. Desde criança manteve a sede pelos estudos. Sabia que de outra forma nunca daria certo. Dar certo na vida foi como sempre pensou. Mas a propósito o que o fez pensar que daria certo? Quando que os seus estudos o salvaria? Em que momento de sua trajetória isso aconteceria? Este garoto por certo sempre foi impaciente. Almejando chegar à lugares, instancias da vida ou tempo correlato de que dispunha muito antes de sua oportunidade. Pode-se dizer que sua falta de paciência era a corda de seu pescoço, a arma apontada para sua cabeça. Mas de que adianta alertar, ele nunca ouvia seus cúmplices. Ademais fugir de sua realidade sempre o agradou mais do que vive-la de peito aberto. Ele deveria ter um futuro brilhante pela frente não fosse suas loucuras. Sempre desviando a curva que o trás de volta à sua forma humana de compreendimento do mundo. Ele havia desgostado daquela brincadeira de vida. Já não queria mais saber de estudar porque para ele futuro nenhum o reservava. De qualquer modo sempre mantinha sua ficção de que almejava dar certo. Ou seja, isso significava dar certo para os outros, pois para ele não saberia dizer quais das suas paixões o traiu de tal modo para abandonar-se. Claro que todo humano possui suas desavenças amorosas, mas ele nunca se importou com isso. Ou nunca quis que se importassem com ele por ele ter se importado com algo tão fútil e mesquinho. As paixões que sempre se referiu foram todas as oportunidades de vida frustradas pelo tempo. Ou demorou muito para chegar no seu tempo certo ou acelerou de mais o processo e desgostou antes mesmo de começar a gostar daquilo que não havia vivido por hora. Em todo caso o seu stress o levou a loucura. Não há como negar, algo saiu errado quando de sua forma frustrada em sair da curva. O estudo não mais lhe conferia ânimo por ser tão real quanto a fantasia. Suas mulheres não lhe conferiam ânimo por ser sempre a mesma palavrava errada travestida em outras peles. A escrita também não o alegrou por muito tempo. Sua casa de retiro já não configurava a proteção de si mesmo para com sua insanidade absoluta. Suas viagens não faziam sentido por se deslocar sem o propósito da desobediência que tanto o alegrava. Pensava compulsoriamente de que se não matasse asi mesmo logo fugiria com alguns pertences para outra desobediência que o livra-se do tédio de suas conquistas. Sua jornada faria sentido desde que fosse curta. Por isso nunca permaneceu ou fez história nos lugares de origem. Seu fígado e pulmão não o suportavam mais. Sua vida era tão curta quanto o tempo da morte. Tudo deveria ser rápido e passageiro. Até que um dia ele o incorporou pela vida seca que amanhece após uma ameaça de vômito subito.
--- o de casa acorde?
--- ué quem é você?
---pode me chamar de frio na espinha.
--- como é? do que está falando? onde estou?
--- por ora em seu corpo. na sua mente para ser mais exato. na verdade navegamos pelo mar da subjetividade. o espaço tempo único e eterno desde que a vida esteja pulsando. aqui é cosmos, principio de tudo. estamos um degrau abaixo do seu sub inconsciente. uma área ainda inexplorada pelos humanos, mas conhecida por algumas espécies de animais do seu mundo. daqui não se saí da mesma forma que se entra...
--- cara do que você está falando maluco? só posso estar chapado. você me drogou?
---eu disse pra você que eu sou o frio na espinha. eu sou o momento em que pede por nova oportunidade.
--- estão estou morto?
--- sim e não. você está no limbo. ninguém pode achar-te ou encontrar-te por aqui. nem mesmo eu posso fazer as coisas acontecerem por você.
--- mas então porque estou conversando com um frio da espinha?
--- para se manter consciente de que lá fora o tempo urge. aqui dentro você poderá permanecer por toda uma eternidade sem que disperdi-se um minuto de vida lá fora. porém continuará fugindo do seu propósito.
--- o que devo fazer então?
--- não sei diga você. depois dizem que a forma humana é a mais inteligente.
--- ei o que você falou?
--- seu tempo está passando meu caro.
--- você mesmo disse que posso me demorar o tempo que for aqui.
---sim, mas o tempo que for aqui não é o mesmo tempo que escorre lá fora. sua vida está por um tris meu caro. e quando se conversa com o frio da espinha, cada micro milésimo de segundo conta.
--- mas não estou entendendo, meu deus. o que está acontecendo? estou desacordado? cai da moto? levei um tiro? morri do coração? entrei em coma alcoólico?
--- talvez nem mesmo seu sub inconsciente registre isso. por hora façamos um trato. eu não sei e não quero nem saber o que ouve lá fora ok? segundo, toda vez que sou invocado é a mesma ladainha e chororo, façamos do jeito mais rápido e sem demora. é um saco aguentar humanos, prefiro as larvas do coco de chipanzé da tasmânia.
--- como faço pra sair daqui? quero voltar à vida.
--- se eu apertar este botão você retornar ao seu tempo de desperdício lá fora. mas antes preciso que assine os termos de comprometimento, burocracia do cara lá em cima, se não cagão na minha cabeça mais tarde quando for a hora de você bater as botas.
--- só isso? quer dizer que eu não estou morto então?
--- humanos. escuta aqui cara você não escutou nada do que eu disse? eu não sei de nada, pode ser que você se safe e viva mais cem anos ou pode ser que daqui você não veja mais nada, a partir da hora que eu aperta o botão. pode ser que você vaze direto para o outro departamento. o que vocês costumam chamar de purgatório. lá sim você tá fodido mano.
--- deixa eu assinar logo então, pode aperta o botão.
--- valeu cara nos vemos na quebrada.
--- fuja loko.
pláck. o botão foi acionado e uma ânsia de vômito o abateu. estava em sua cama, suava muito, fraco, e sem noção de tempo e espaço. parecia perdido em sua própria casa. há sua volta milhares de garrafas, litros, latas de bebida alcoólica e muitas caixas de cigarro. teria sido tudo aquilo um sonho ou pesadelo? não poderia saber o que tinha se passado pois não poderia lembrar. mas aquela sensação do frio na espinha o acompanharia por mais alguns instantes. mal sabia ele do que o esperava ali na esquina.