Key


Era o outono de um ano qualquer, nada mais fazia sentido para alguém.
Ela era só um alguém que segurava uma chave sem porta para abrir.
Apertava a chave na mão que já estava suada e dolorida, esperava ela alguém que pudesse lhe indicar o caminho certo, onde uma porta esperava para ser aberta.
Enquanto meditava nas estações que sobreviveu ao léu, fez versos de esperança.
Passou o inverno mais frio que uma alma pode aguentar, e ela esperou, abraçou o próprio corpo e caminhou buscando o sol nas manhãs e as brasas que restaram da fogueira alheio, um mendigar de afetos. Ela manteve a chave no bolso do casaco surrado, sem nenhuma porta para abrir.
Passou a primavera que trouxe flores e perfumou a vida de todos sem nenhum preconceito. E ela carregou as flores que perfumou as mãos, que perfumou a chave que não abriu nenhuma porta.
Passou o verão e suas comemorações, passou o desejo desfilando nu em sua mente, passou e não abriu nenhuma porta para resguardar a nudez da mulher.
Chegou o outono rodopiando folhas, fazendo o vento assobiar uma canção estranha, que fez o corpo arrepiar. Ela aperto com força a chave nas mãos e aguardou o convite, para seguir em frente e abrir a porta.
Enquanto dançou revirando folhas secas, o tempo passou e ela olhou no espelho e disse para o tempo que se chamava Key.
Nenhuma porta ela abriu, porque a chave era ela, e ninguém ousou tocá-la.

 


 
Simplesmente Sys
Enviado por Simplesmente Sys em 03/04/2018
Código do texto: T6298366
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.