Arbusto Espinhento em uma Flor Frágil
Era um vaso de flores que por muito tempo ornamentou aquele canto vazio do jardim. Nem pequeno nem grande, tinha ali o seu lugar, embora eu não tenha me lembrado quando exatamente ele fora deixado.
Em certo dia, ali não estava mais. Ficou somente as marcas no piso.
Um círculo de terra ressecada havia manchado o chão.
O espaço deixado poderia ter sido aproveitado por mim antes. Tantas
coisas poderia ter deixado naquele lugar ou mesmo o deixado vazio.
Ainda que com uma bonita flor, não havia escolhido que ela ali ficasse.
Apareceu e fui deixando pra lá, até que me acostumei.
Hoje olhando aquela marca de barro ressecado não senti falta do vaso
e nem da flor que ali estava. Não que não gostasse dela ali. Mas este
espaço que ela ocupou foi o preço por ornar ali o que nem sabia que
precisava ser ornado.
Tentei tirar a marca. Consegui no máximo deixar ela mais apagada. Talvez mais tarde eu tente outras vezes até que ela desapareça de vez. Mas ao limpá-la me passou na cabeça isto: aquele espaço que eu havia esquecido que tinha ficou vazio agora.
É como se aquele espaço precisasse de uma novo vaso e uma nova flor. Ora, como assim? O espaço não é meu? Não estava vazio antes, por que depois de tanto tempo, criou-se o vazio do qual não me caberia decidir como preenche-lo e se preenche-lo?
Então contemplei por horas aquela marca. Que era um sinal petulante
e enganador de que aquele espaço dentro do meu jardim não era mais meu.
Alguns se sentem nesta obrigação de preencher seus espaços, como se ali tivesse sido reservado para alguém em específico. Como descobri que ali estava vazio? Alguém olha para o céu e diz "que pena o céu esta vazio?" Olha para os campos e diz "esta tão vazio de casas este lugar!". Olha para os desertos e diz "estão tão vazios de pessoas!"
Uma forte tempestade havia se anunciado por não menos fortes trovões. Raios anunciavam o começo do espetáculo. Águas torrenciais, inundando as ruas e derrubando muros. Vinha de todas as partes arrastando carros e objetos grandes.
Parecia uma guerra da natureza contra nós. Casas alagadas, pessoas ilhadas e destruição. Era como se tudo aquilo fosse na verdade da natureza e ela quisesse de volta.
A marca foi embora do jardim. Fora lavada pela tempestade junto com outras coisas que ali ornava. Meu espaço ficou ainda mais vazio. Porém lembrei de tudo.
Era eu mesmo, em cada dia feliz ou triste colocava ali aquelas plantas. Algumas sempre desejei que ali estivessem, outras apareceram sem que eu notasse, talvez presente de algum estranho.
O vaso que deixou as marcas, agora já lavadas pela tempestade, era de uma planta muito frágil e bonita que eu havia ganhado. Seu vaso discreto também trazia semente de um arbusto espinhento que fora crescendo e ao poucos tomou o lugar da frágil planta.
Eu tinha me esquecido da frágil planta que ali estava e tomei seu vaso como o de uma planta indesejável. E como tantas coisas indesejadas ali a descartei. Senti falta da frágil planta, porém havia me esquecido do arbusto espinhento que ela abrigava entre suas folhas.