Tragédia rimada
e ao meio da sala da casa grande, ao som um candelabro eles se falavam na noite...
- até parece
- você não se esquece, esquece?
- não quem como se esquecer...
- como não? olhe pra mim, olhe pra você...
- não...
- não da pra ver?
- não...
e o silêncio agora entrou como o dono da casa e tomava de conta daquela hora...
com os suas botas e coletes sujos de lama eles olhavam para um infinito de escuridão daquela sala de jantar vazia...
o vento entrava com um uivo pela janela entreaberta e as cortinas de cambraia dançavam lentamente ao seu ritmo
- ela não merecia isso.
- não me venha mudar o que aconteceu
as vozes eram baixas, como se falassem para si mesmos... o fogo da vela permanecia estático sobre a mesa.
-ela não...
- cale-se agora!
- então tudo foi em vão?
- pega suas coisas e vá embora
- e o resto do meu coração?
- deixe a secar sob a aurora
- então foi em vão?
- não...
Então um olhou para o outro que olhava para o infinito da noite além da janela, não conseguia parar de olhar para lá. Enquanto um fio de lágrima escorria pelo seu rosto e os seus lábios se contraiam em sofrimento....
o que olhava pensou... " Miguel..."
e o que era olhado chorou
e olhando uma lua cheia e uma única estrela que brilhava ao lado dela, ele falou bem fraquinho:
- não era simplesmente para fazer isso... nós não conseguimos... depois disso... depois de tudo, continua destruído...
- não miguel, foi preciso fazer isso, você sabe. ela não era daqui, não conseguimos salvá-la...
miguel virou o rosto molhado devagar e disse:
- juliano... e se tivesse outra forma e se houvesse outro jeito...
- não, não pode pensar assim
- o todo o resto de mim?!
- ainda vive dentro do teu peito
- escorreu-se no chão com cor de carmim...
a dor ali era eminente... miguel não sentia, mas estava ressentido mesmo assim, sabia que depois de tudo aquilo que haviam feito, poderia acontecer todo o resto, não queriam pensar mais naquilo, não queriam se lembrar daquilo... mas ele via a cena ali passando em cada lágrima iluminada fracamente pelo fogo da vela quase já pela metade derretida.