Estilo

Eu não tinha estilo. Tinha uma forma ingênua de ver as coisas, que parecia que chamava atenção de algumas pessoas. Não que isso fosse alguma vantagem. Mas ela tinha bastante estilo e nenhuma ingenuidade... Aquela menina de olhos escuros.

Ela saltou da cama e desapareceu na escuridão do quarto. Voltei a ver seu corpo quando ela acendeu um isqueiro e pôs fogo num cigarro. Depois, tudo o que restou foi o brilho alaranjado da brasa, que se intensificava cada vez que ela dava um trago. Percebi que ela sentou-se numa cadeira e seguiu fumando, em silêncio.

Me agarrei a uma garrafa de vinho que eu tinha deixado ao lado da cama e bebi calado. Depois de um tempo o cigarro se apagou e eu ouvi os passos dela novamente em direção à cama. Veio engatinhando até que nossos rostos se encontraram. Ela pegou a garrafa e tomou um gole. Depois me beijou longamente. Fiquei saboreando o gosto de cigarro e do vinho tinto. Eu não estava bêbado, mas me sentia um pouco tonto e ofegante. Nossos corpos se grudaram e ela me colocou para dentro mais uma vez. Ficou por cima de mim, cavalgando, completamente no controle da situação.

Aquilo era estilo.

Coisa que não se aprende em lugar nenhum.

Eu ouvia sua respiração cada vez mais acelerada, até que eu despejei tudo o que eu tinha dentro dela. Ela riu e se deixou cair sobre mim, encostando os lábios em meu ouvido.

Achei que iria enlouquecer. Ninguém estava imune a uma coisa daquelas. Então ela encheu a boca de vinho e começou a me beijar com os lábios gelados. Primeiro no pescoço, depois foi descendo, até me ter inteiramente em sua boca.

Eu sequer tinha me recuperado, e eu já estava em riste novamente.

E ela continuou até que não restasse mais nada de mim para contar a história. Se levantou vitoriosa e seguiu para o banheiro.

Pouco tempo depois eu pude ouvir o barulho da água correndo enquanto ela cantarolava uma das músicas que ela sabia que eu gostava.

Me sentei ao computador e comecei a escrever imediatamente tudo o que vinha na minha cabeça, sem me preocupar se faria sentido no fim.

Ela voltou do banheiro com os cabelos ensopados e postou-se do meu lado. Leu um pouco do que eu estava escrevendo, me deu um beijo no rosto e foi para a cama se deitar.

Eu escreveria noite à dentro e ela dormiria seu sono despreocupado.

Eu ainda me sentia mal, pela minha falta de estilo, mas estava satisfeito com a presença dela, completamente fora de controle, bagunçando minha vida, meus textos e dando algum sentindo às minhas noites de insônia.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 27/03/2018
Reeditado em 30/09/2020
Código do texto: T6291905
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