Mais um Conto
Não é que por um dia, Divino foi manchete de jornal.
Bem que dizia ele:
- Um dia vou dar nome às páginas de o liberal.
E assim seguiram os dias e Divino foi acometido de uma escoliose pela postura e pelo trabalho, que exercia. E que dia a dia lhe valia um dor insuportável na coluna.
Como era estivador há muitos anos, já não aguentava mais carregar aquelas sacas de tudo que ia embarcar nos navios aportados no porto.
Foi aconselhado pelo médico da empresa a procurar um especialista para resolver seu problema.
Sempre preocupado com o trabalho não deu muita atenção e o caso foi se agravando, até que ele não conseguia se levantar, pois a sua coluna travou. E foi bater as pressas a mesa de cirurgia de um certo doutor, que de mediato não garantiu toda vitaliciedade ao enfermo. Mas operou e com sempre a operação foi um sucesso.
Acontece que os dias passaram e recuperado mais ou menos, Divino voltou a trabalhar, porém voltou a sentir fortes dores e de novo foi encorajado pelo médico da empresa a procurar o medico do INSS, no sentido de obter um novo beneficio.
Desta feita, ficou ano, dois anos, quatro anos e voltou ao trabalho. Mas novamente não era mais o mesmo e as dores eram a cada dias piores, tanto que ele foi parar ao médico da empresa que o aconselhou aposentadoria.
Voltando ao INSS para um novo beneficio, e voltando e voltando ele interrogou o médico:
- Doutor não dá pra aposentar?
O médico cheio de autoridade e com toda a arrogância que lhe era peculiar respondeu:
- vocês são todos iguais. Chegam aqui e querem logo se aposentar. Mas aqui só aposento quem não inventa.
No contra argumento Divino disse:
- Doutor o senhor já me acompanha a quase sete anos e cada dia que volto ao trabalho é uma dor insuportável e sempre retorno ao beneficio. Eu gosto de trabalhar, mas acho que não dá mais pra mim.
Replicou o médico:
- Não disse é sempre assim, acho que não dá. Você não é médico rapaz. Pois eu te digo que o que você tem, como a maioria dos brasileiros é preguiça.
Indignado Divino saiu do consultório e voltou ao médico da empresa dizendo:
- Doutor Carlos esse médico do INSS é doido. Ele mês esculhambou e mandou eu de volta. Dizendo que o meu mal é preguiça e que não adianta eu ir lá fazer cara de coitado, que ele mesmo não vai me aposentar.
- Calma Divino! Esse médicos do INSS são mesmo assim, são pagos para impor barreira, pois a gente sabe que muitos vão lá só pra refrear o trabalho, que não é o seu caso. Mas vou fazer um laudo técnico, com base nos seus exames e com certeza ele vai resolver.
O rapaz seguiu no dia seguinte, mas não foi recebido. E sem entender perguntou a recepcionista, que falou:
- moço o doutor não vai lhe receber, pois, segundo ele o seu caso já está resolvido e ele não vai perder tempo com você e tão pouco vai compartilhar com a sua má fé, para não voltar ao trabalho.
Divino saiu do consultório “vendendo azeite”. E sem pensar duas vezes foi a casa de um conhecido e pediu a sua arma emprestada e quando o seu conhecido perguntou por que da arma ele foi franco:
- hoje vou virar noticia de jornal. Pode espera na tv.
E saiu deixando o seu colega falando sozinho e bastante arrependido por ter-lhe emprestado a arma de uso do seu trabalho. Tanto que resolveu ir a delegacia prestar queixa como se tivesse roubado a sua arma. A fim de lhe resguardar o que visse por vir.
Não obstante, Divino chegou ao consultório do médico do INSS bastante apressado e com a arma em punho. Visão que deixou todos atônitos e a recepcionista, pega despreparada, nem teve tempo de avisar ao médico, que um paciente ensandecido entrara porta adentro.
Lá dentro, por um segundo pensou, e sem direcionar a arma chegou a frente do médico, que ao ver a arma foi logo dizendo:
- Calma rapaz! Eu tenho filhos!
- não vim ceifar a sua vida. Ela de nada me vale. Só vim mostrar esses laudos e sair daqui com a sua analise dentro do que permite a lei.
Enquanto o rapaz fechava o cerco com o médico a imprensa e a policia apostos do lado de fora faziam a sua leitura.
Ao sair Divino foi fotografado rindo, com a sua aposentadoria a mão.
O caso foi conhecido do país e da justiça, que dessa vez ficou ao lado do injustiçado.