Uma Rosa para Berlim : Marcas da fúria 1
Estou no céu ou inferno? Pessoas ao meu lado. Não, não estou morta .
Vejo Marija a meu lado sorrindo e Erna dormindo nos fundos do quarto.
- Eu morri ? - pergunto olhando para todos os lados - onde estou ?
- Você ainda não foi para o inferno, mulher maluca ! - disse Nina Hübner entrando
no quarto com alguns papéis- dormiu 2 dias e os tiros passaram de raspão. As
outras também não receberam tiros fatais - senta ao meu lado - pedi que as fizes
sem dormir por esses dias para se recuperarem melhor.
- Quem está aqui ? - pergunto tentando me levantar. Estou meio tonta.
- Gerda Mende, as duas aí, Gerda Maria, eu, Ina Grabner, Lili Grünberg, Lale Gräfe e
e sua irmã Áine .
- Áine está aqui? - consigo me levantar de um sobressalto - onde ?
- Esteve agora mesmo. Você dormia profundamente. Mas vai voltar .
- Como tá o país ? - pergunto já sabendo a resposta .
- Destruído - falou Nina Hübner se levantando e se retirando - estou ajudando os
feridos ! Tenho que ir para a outra sala. Depois conversamos - me manda beijos.
Fico olhando para Marija que acorda Erna. Esta acorda meia assustada e olha para
mim e sorri ao me ver.
- Acordou, heim ! - e se levanta bem devagar - estou quase boa, amiga !
- Nina ! - gritou uma voz conhecida. Áine esquece que está em um lugar de silêncio
e vem correndo e me abraça de leve - estou de volta , irmã !
- E minha tia e minha prima ? Onde estão ?
- Todas aqui em Berlim ! Inclusive meu tio Herman !
Faço cara de espanto após ouvir o nome dele é logo pergunto :
- Está preso ?
- Fez acordo e está solto . Ajuda a identificar os resistentes !
- Filho da mãe !- grito espantada - traindo seus compatriotas !
- É a lei da sobrevivência !- disse Erna se colocando do lado de Áine - é isso.
- Hoje à tarde, depois dos seus exames periódicos, vamos nos reunir no pátio.
É parece que ouviram ela pois, entra uma equipe médica ao lado de Nina Hübner
que examina cada paciente ali. E me levam para outra sala após eu provar que
posso ficar de pé. Estou um pouco tonta mas caminho amparada por dois enfermei
ros bem fortes. Vejo que um deles parece ser Russo. E passo por uma bateria de
exames. E ao fim do dia estou ao lado de Uta e minha tia Greta. Parecem mais
velhas. Não usam maquiagem e suas roupas parecem surradas. Velhas , usadas.
- Gostou da roupa ?- pergunta minha tia parecendo ler meus pensamentos - Não
podemos mais nos exibir. Não existe mais fartura . Existe falta de tudo !
Sorrio. Abraço ela é depois Uta. Olho para Gerda Mende comendo uns bolinhos
que parecem saborosos e pego um. Como com vontade. E todas comemos.
Os dias ali parecem longos. E eu passo a ajudar outros feridos. Me coloco
à disposição do pequeno hospital feito de madeira e lona. E os dias passam e vejo
que a nossa vida começa a correr riscos ali pois, investigadores Russos volta e mei
a nos observam com muita atenção. É nós fingimos não perceber. Até que uma
enfermeira se reúne conosco e nos alerta :
- Estão de olho em vocês ! Fiquem atentas ! E o melhor que fariam era irem para
longe daqui. Será uma grande perda pois, nos ajudam muito .
Chega um médico sorrateiramente e fala baixinho:
- Dia 23 farão pente fino no local. Informação quente ! Descobriram haver agentes
da resistência nazista aqui.
- Mas quem são eles? - pergunta Lale Gräfe com ar de espanto - não somos nós!
- Mas alguém informou que existe uma sobrinha de um tal Herman Schaffer...
- Sou eu ! - cortei o médico erguendo o braço direito - Eu saio e elas ficam !
Minha tia abaixa a cabeça e fala :
- Herman fez acordo e entrega a própria sobrinha ! É meu marido ! - ergue a cabeça
e nos olha - vamos para a minha casa hoje mesmo !
- Hoje ainda é dia 20. Podem esperar mais dois dias .- o médico olha para minha
tia - mas lá estarão na boca do leão !
- Nos separamos e ele não sabe onde moro .- Falou minha tia com firmeza .
E assim me preparo e, ao anoitecer desse mesmo dia, partimos dali em veículos
velhos e furados. E vejo muita gente dormindo na rua. Crianças abandonadas e
idosos tristes. Meu coração se enche de tristeza. Mais adiante, veja pessoas bem
vestidas arrastando um ex soldado da ss. Este grita por socorro e leva chutes no
rosto. Meu impulso é de sair para ajudar. Mas Marija me segura e fala :
- Vai ver muito disso! Estão matando nazistas assim. Russos e Judeus estão se
vingando assim...
Um tiro. Dois tiros e o ex soldado fica mudo. Meu coração chora . Eu choro e vejo
Uta chorar também. No outro carro que segue junto, com Erna e Lili, vejo-as abai
darem a cabeça. Nina Hübner respira fundo e mostra olhar de tristeza.