Sistema
Ônibus no curso normal do seu dia a dia, Mauro entrou, pagou a tarifa salgada e de licença em licença, pois estava lotado, meio que suado, enfim se assentou lá na poltrona do fundo.
Na musica do rádio, que calava cada um senhor e senhora, estudantes e outros tocava qualquer coisa como um sertanejo melado, seguido de um brega rasgado, que fazia cada um, mais que o outro se asseverar aos seus pensamentos.
De parada em parada, saindo caramujamente da periferia ao centro entravam e saiam vários cidadãos. De situação a situação, uma discussão com o motorista e outras com o cobrador, quando não reclamavam para outro passageiro, pela sujeira, pelo desconforto ou por algo, que ali naquele recinto acontecia.
Fato é que em determinado espaço de tempo e local, três elementos anunciando a venda de uns bombons, anunciaram também um assalto. As pessoas ficaram estarrecidas, algumas ficaram atabalhoadas e outras embarcadas num silencio catatônicos. E dentro de um temor medonho, ao ver aqueles paladinos da miséria roubarem dois a dois dos passageiros, enquanto guarneciam uma das armas na cabeça do condutor e outra na direção do cobrador, o terceiro malfeitor recolhia bolsas, relógios, celulares e tantos outros utensílios, bem como o dinheiro do caixa do ônibus.
Naquele quarteirão a esmo, que a condução costumava passar plaqueou-se o medo e os bandidos saíram adentrando a mata, que os cercava, fugindo sem deixar rastro. Enquanto que no ônibus, passada aquele momento de dificuldade, vendo que todos não tinham sofrido nenhum mal, além do material, de alivio ou de nervos muitos começaram a chorar e outros a reclamar.
Saindo do transe, o motorista teve que ser substituído, pois sendo uma pessoa de sessenta e três anos, trabalhando pela necessidade, não tinha nervos para dirigir. E então, entre troncos e barrancos o cobrador, que nem tinha carteira de habilitação se habilitou e os conduziu a delegacia mais próxima, muito embora alguns imaginando pela experiência a certeza da impunidade queriam era ir para o trabalho, para não chegar mais atrasados e sentirem no salário, a herança do capitalismo frente a insensibilidade familiar do chefe.
No entanto, teve que ser registrada a ocorrência e aí foi quando Mauro, por inocência ou por sensação de justiça se ofereceu ao depoimento, após o cobrador e o motorista. Relatando no depoimento que conhecia um dos bandidos. Informando assim, onde o meliante morava.
Após a tomada de depoimento, o ônibus seguiu o seu rumo e ficou certo, que se pegassem ou tivesse o retorno do que tinha sido roubado, era para as pessoas passarem lá para resgatar.
Frente ao relato de um dos passageiros a policia nunca tinha sido tão eficiente e rapidamente prendeu um dos assaltantes e paulatinamente começou a pegar um a um, com a maior parte do que tinha sido roubado. Os pertences foram devolvidos e aos poucos as coisas na cidade foram voltando a rotina e parando de serem comentadas.
Os bandidos foram encaminhados ao presidio, pois cada um tinha uma folha extensa como curriculum. Então na ida para a penitenciária, o acerto já foi tomando conta do processo e nesse momento, o policial falou aos bandidos, de como eles tinham sido presos.
Quando a luz apagou da memoria urbana e as pessoas já viviam outra situação, três meses depois os bandidos conseguiram sair na velha e frágil palavra dos homens, que o judiciário teima em dizer, que seguiram a lei. Assim na sequencia dos fatos, por comportamento, segundo os documentos, os bandidos, tiveram a sua saída de natal e foram presentear o delator, com a morte.
Escandalizado nos jornais a morte brutal do jovem, ascendeu comentários sobre o fato, que ainda não se tinha conhecimento adequado. Mas quando veio a tona, o fato da morte estar relacionada com o assalto ao ônibus e a posterior prisão dos meliantes. A cidade, noite e dia, questionou o sistema carcerário, a segurança pública e o excesso de liberdade aos prisioneiros, com tantos direitos, pelos quais, o Secretário de segurança, veio a público dizer:
- Senhora e senhores, aproveito esse espaço para informar, que o ocorrido, foi apenas um ato isolado. É certo, que o ocorrido não irá se repetir. Tomaremos todas as providencias para punir, os responsáveis. Os bandidos já estão presos e irão voltar ao regime adequado as suas periculosidades. Estou aqui para tranquilizar a população de que seremos mais enérgicos e que não se preocupem, pois tudo está sob controle.
Uma semana depois, outros assaltos aconteceram nos ônibus e houve mortes, mas ninguém se pronunciou e tudo não passou de discursão nas mesas dos bares. Acabando que tudo ficou no esquecimento, como o lixo quando cai fora da lata, em plena praça pública.