Jéssica
Eu estava numa mesa de bar, como era de meu costume. O copo de cerveja ia pela metade e eu estava na quarta garrafa.
A noite corria arrastada, sem nenhum evento, sem nenhuma emoção, além da queimadura na língua por causa do caldinho quente demais.
A dona do bar, que já me conhecia, bem mais do que a minha supervisora no trabalho, sequer esperava que eu pedisse a cerveja. Meu copo jamais esvaziava, em contraste à mim mesmo, que me sentia completamente vazio.
Jéssica chegou, sentou-se ao meu lado, me deu um beijo no rosto e bebeu a cerveja do meu copo até que não houvesse mais nada.
- Que cara é essa, bebê? me perguntou.
- Nada demais, meu bem.- Respondi, evasivo.
Eu sabia que não dava pra enganá-la, mas ela não me questionou mais.
A dona do bar trouxe outro copo e outra cerveja, e nos deixamos ficar ali, bebendo e falando de nossas coisas do dia à dia. Éramos cumplices das tristezas um do outro, mais ouvintes do que conselheiros.
Em certo momento, Jéssica interrompeu uma das minhas divagações e disse.
- Quero que tu sempre me seja leal.
- De onde veio isso?
- Daqui de dentro.
- Mas por que isso?
- Por que quando eu começo a confiar em alguem, é justamente quando essa pessoa dá um jeito de me ser desleal de alguma forma.
Fiquei calado olhando para Jéssica, que tinha os olhos marejados.
- Te prometo isso, então.
- Posso confiar mesmo?
- Pode.
Jéssica abriu um sorriso, e me deu um beijo no rosto, bem próximo aos lábios.
- Você tem uma moeda pra o jukebox?
Meti a mão no bolso e dei duas moedas a Jéssica, e ela saiu saltitando até a máquina.
Voltou com um sorriso de um tamanho que eu não sabia como mensurar, e uma garrafa de cerveja gelada nas mãos.
Tinha uma certa simplicidade em Jéssica que a separava das outras mulheres na minha visão.
Ela fazia questão de muito pouco, mas esse muito pouco as vezes lhe fazia falta.
Ela sentou-se ao meu lado e a noite continuou a correr
mas menos arrastada do que parecia antes.