Bofetada
Naqueles dias eu andava envolvido afetivamente com duas mulheres. Não eram relacionamentos formais com limites bem estabelecidos, mas tal era a frequência dos encontros que eu estava ou com uma, ou com outra.
Nunca falei sobre exclusividade com nenhuma das duas, e para mim era claro que nenhuma delas esperava isso.
Sexta feira à noite, eu estava com Thaís, em um bar na saída da universidade, onde constumávamos beber com alguma regularidade. Pedimos a saideira e resolvemos voltar para minha casa e encerrar a noite juntos. Thaís estava mais animada do que o comum. Eu podia dizer que tinha algo diferente nela, só não sabia o que era.
Nos despedimos dos nossos amigos e voltamos para casa de ônibus. Durante todo o caminho, Thaís não tirava os olhos de mim. Como se tivesse algo a dizer e só tivesse esperando um momento adequado.
Quando entramos em casa e eu fechei a porta atrás de mim, Thaís me agarrou com força, me colocou contra a parede e me beijou como se eu fosse a última água do deserto. Não que eu tivesse achando ruim, só que a espontaneidade dela me deixou curioso à respeito da origem de todo aquele ímpeto. Fomos tropeçando pela casa até o quarto, deixando peças de roupa pelo caminho.
Thaís me jogou na cama e me olhou de cima. Sequer apagou a luz, como era de seu costume. Montou sobre meu corpo e começou a cavalgar, sem tirar os olhar de mim. Fiquei olhando seu corpo se contraindo com a movimentação, até que ela desceu a cabeça até meu ouvido, se deitando sobre mim, e disse sussurando.
- Hoje eu quero que você me obedeça.
- Ok. - Respondi, um pouco confuso.
- Sem questionar - Ela replicou.
Acenti com a cabeça e ela virou-se e me puxou para cima.
- Quando eu beliscar sua perna, eu quero que você me bata no rosto.
- Como assim?
- Sem questionar, tá lembrando?
- Ok.
Eu não era acostumado a coisas desse tipo. Na verdade eu achava bastante estranho. Minha cabeça não conseguia conciliar sexo com um tapa na cara. Pode soar careta, mas era como eu me sentia.
Voltamos ao sexo e no meio do ato, Thaís beliscou minha perna esquerda com força. Fechei os olhos e dei um tapa de leve no rosto dela.
Ela deu um sorriso de quem não estava satisfeita e me beliscou com mais força.
Dessa vez eu acertei com mais intensidade, mas ela ainda não parecia feliz.
- Bate com força, porra.
Ergui a mão e bati, com mais força do que eu gostaria, mas ela não pareceu se incomodar.
- De novo. - Repetiu.
Bati e bati. Todas as vezes que ela pediu.
Por fim, Thaís se aninhou no meu peito e dormiu como uma criança. Parecia satisfeita.
Algo em mim, no entanto, não estava muito no lugar com aquilo tudo. Me sentia quase como um abusador. Mesmo que tudo tivesse sido consensual e ocorrido por iniciativa dela.
Thaís foi embora na manhã seguinte, com um sorriso nos lábios, satisfeita como uma gata após um cochilo.
-
Ana apareceu em minha casa no domingo. Veio de carro me buscar para ir ao cinema.
Assistimos um filme qualquer e jantamos em um restaurante japonês. Conversamos sobre nossa semana e Ana me contou sobre sua rotina como policial civil. Me incomodava o fato de aquela mulher ter uma pistola sempre consigo. Na verdade eu me sentia sempre incomodado na presença de armas. Mas Ana era um tipo suave de pessoa. Calma, sorridente e sempre tranquila. Naquela noite, Ana reclamou que as aulas de Jiu Jitsu a haviam deixado com uma terrível dor nas costas e que tudo o que ela queria era uma boa noite de sono e não ter que trabalhar na segunda feira.
- Posso dormir na sua casa hoje? - Perguntou, com a cabeça encostada em meu ombro.
- Pode sim, Ana. Sem problema algum.
- Não queria dormir sozinha hoje.
- Estou aqui pra isso. - Respondi sorrindo.
Pagamos a conta e retornamos para casa.
Ficamos boa parte da noite assistindo seriados, abraçados um ao outro. Até que em certo momento, estávamos nos beijando e tirando a roupa.
Ela era quase do meu tamanho, e algo me dizia que era fisicamente mais forte. Afinal, ela era atlética e eu, um sedentário de carteirinha, que quase se orgulhava da crescente barriga de cerveja. O contraste era engraçado, mas eu me sentia um pouco mal por isso.
Ana deitou-se de barriga para cima e puxou meu corpo contra o seu. No meio do ato, ela me deu um beliscão na perna.
Automaticamente, ergui a mão e lhe dei um tapo no rosto, só me dando conta do que estava fazendo, depois de já tê-lo feito.
Ana parou e segurou meu pulso esquerdo com força e de alguma forma me dominou e me imobilizou na cama.
- De onde veio isso? - Perguntou com uma voz ríspida.
Fiquei calado, preso naquele abraço, sem saber o que dizer.
Percebi um sorriso em seu rosto, apesar de toda a situação.
- Não sei. Não tenho esse costume, mas de alguma forma pareceu adequado.
ela foi me soltando e começou a me beijar com força.
- Não gosto muito de surpresas. Mas essa foi interessante.
Meu pulso dóia um pouco, pela forma que ela tinha me imobilizado, mas nada que me impedisse de continuar naquela loucura em que eu estava me metendo.