Cavalo baio
Eu fui criado na Vila de São Judas Tadeu, em Bagé-RS, lugar de pessoas humildes, a maioria deles carroceiros, vendiam frutas, verduras, legumes.Os produtos não tinham origem dali, a não ser algumas caixas de tomates,que eram produzidas em pequena escala, nos pátios das residências, repassadas aos carroceiros e estes vendiam na cidade. Eu era um desses "plantadores" de tomates, tarefa que ajudava no sustento da casa. Assim, apesar das dificuldades, todos viviam sem passar fome.Era um bairro quase rural, distante uns três quilômetros do centro, para onde a maioria das pessoas se dirigiam sempre a pé,ou de bicicletas. Não não havia transporte coletivo e carros muito poucos.Ao lado do bairro havia um campo que não ocorre o tamanho, nunca alguém se importou com isso, apenas que era uma pastagem alugada para viajantes ou tropeiros que deixavam seus cavalos a pastar e descansar. Num certo dia chegou na vila uma família de japoneses, compraram todo o campo e começaram a plantar. Não demorou muito e estavam vendendo seus produtos na feira livre. Possuíam uma camioneta e uma carroça tracionada por um cavalo baio.Fui um dos carroceiros do japonês, por algum tempo.Eles eram pessoas silenciosas, respondiam ao meu bom dia, às 4 horas da madrugada e já estavam trabalhando.Da sede da "fazenda" eu descia na direção do riacho onde, nas margens, ficava pastando o cavalo baio.Com a geada era difícil a caminhada e mais difícil prender quele animal na carroça, era um cavalo um pouco mal domado, mas com jeito ele foi se acostumando comigo e no final nos respeitamos. Eu saía dali sozinho na direção da feira, sempre em locais diferentes da cidade. Montava a barraca e ficava a espera da japonesa, filha do casal, que cuidava da comercialização, ajudada por mim. Certa feita, de madrugada, dirigia-me ao local onde estava o cavalo baio quando vi uma estrela cadente, por Deus,o meteorito desceu tanto, que achei que iria atingir o cavalo, corri na direção do cavalo e, graças Senhor, o animal estava lá, pastando tranquilo. Fui para a feira, trabalhei e na volta vinha na carroça a japonesa, ela nunca sorria e então resolvi que naquele momento da vida ela daria um sorriso e contei-lhe da estrela cadente que tinha visto cair bem perto do cavalo baio. Bom, não precisou muito para a japonesa começar a rir da minha cara, ou da minha inocência talvez.Depois fechou a cara e não falou nada, bom eles pouco falavam mesmo. Eu tinha catorze anos e a japonesa cerca de uns vinte, ela não pensaria nada de um moleque, mas eu pensava alguma coisa sobre ela.Com certeza.Toquei o cavalo baio em silêncio.