Rato na ratoeira
Certa noite,estávamos, meu pai,eu, mamãe e duas irmãs menores,a beira do fogo e a luz do lampião, papai conversava contando suas histórias dos tempos do exército e das estâncias, quando ouvimos um forte barulho vindo da casa geminada com a nossa e, naquela ocasião sem moradores.Logo mais um som forte, parecia que moviam caixas, talvez móveis. Bobagem, não havia nada nem ninguém naquela casa.O prédio fora moradia e oficina de um antigo ferreiro,por isso geminado e com uma pequena abertura por onde, diziam, a esposa passava a alimentação do marido.Essa abertura foi fechada com a morte do ferreiro e transformado o local em duas moradias para locação.O barulho continuava forte.Meu pai pegou um velho facão sem fio que servia para quebrar gravetos para o fogo, levantou-se e saiu. Fui junto com ele e assim chegamos até a porta da casa abandonada. Ventava e a noite estava bem fria. Papai parou, olhou-me e disse,é melhor chamar o Brigadiano, que no Rio Grande do Sul é assim chamado o PM, havia um que atendia durante a noite alguma escaramuça que houvesse na vila, chamávamos de posto da Brigada, mas na verdade o policial residia ali, trabalhava durante o dia em outros locais e a noite estava em casa.A bem dizer, o barulho continuava,corri na direção da casa do Brigadiano, bati a porta e o chamei.Rapidamente expliquei que aquela casa estava e que estava ocorrendo alguma coisa, pois o barulho vindo de lá era forte e denotava movimento de várias pessoas. Voltei correndo e o PM logo chegou.Sacou do revólver e de uma lanterna, empurrou as folhas da porta, entrou de supetão, ficou la dentro por alguns minutos,a casa não era grande, revisou tudo e saiu.Então disse a meu pai que não tinha visto,nem ouvido nada demais dentro do prédio, no entanto, narrou ter visto um rato muito grande preso em uma ratoeira.O barulho vindo da casa já havia parado, o policial fechou a porta e dizendo boa noite foi embora.Papai e eu nos recolhemos,trancamos as portas e ficamos a beira do fogo. Por muitas noites ainda ouvimos os barulhos na casa abandonada, depois silenciou.Era, talvez, a alma penada de um rato, ou ratazana, ou mentia o Brigadiano e o barulho era apenas o vento minuano entrincheirado nas frinchas daquele rancho tapera.