A cadeira de balanço
A visita acontecia quase todos os fins de semana. O pai e a mãe vinham de longe para ver os pais dela, que viviam sozinhos, bastante isolados, numa casa comprida e não muito clara. Para ela, tudo soava um tanto estranho, a cidade grande, aquela casa onde se projetava um corredor, tão longo que ia da peça da frente até o quintal, um espaço atulhado de plantas por onde se esgueirava o sol.
O avô, num momento em que ela se aborrecia, chamou-a para perto dele: "Vem cá." Ela encabulou, diziam que o avô era doente, que o avô tinha uma série de manias, que ele não se aproximava muito das pessoas. "Senta aqui." Ele colocou-a no colo: " Tu gostas de histórias? Vou te contar uma história." E ele cumpriu a promessa: por um tempo que para ela foi incalculável, de tão precioso, desfilou uma série de histórias, animais materializaram-se diante dos seus olhos, príncipes e princesas, gigantes e anões...
Naquela tarde, saiu conquistada, tão conquistada que, de vez em quando, nos dias que se seguiram, não pode deixar de perguntar: "Quando vamos visitar o vovô?" As sessões se sucederam mais quatro ou cinco vezes, sessões que esperava sôfrega, um mundo novo que ia descobrindo, cada vez mais rico e sedutor.
Num dia frio, ela se preparava para a viagem, que a levaria ao caminho dos sonhos, quando viu uma agitação na casa. Percebeu que não se tratava de algo bom, mal falavam com ela, até que a mãe se achegou: "O vovô está doente, nós vamos ao hospital, tu ficas com a tia Marta." "Eu não posso ver o vovô? Ele não vai me contar mais histórias?" A mãe, tão discretamente quanto possível, secou uma lágrima: "Reza para ele ficar bom."
Eles partiram e ela nunca mais se sentou na cadeira de balanço com o avô, nunca mais ouviu as suas histórias, mas a semente tinha sido plantada, os frutos se multiplicariam vida afora.